segunda-feira, 9 de março de 2009

Resenha do texto-base: Hume – Investigação sobre o entendimento humano, seções II, III, IV e V

Universidade Federal de Minas Gerais 
Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas 
Departamento de Comunicação social 
Disciplina: Epistemologia 
Professora: Anice Lima
Aluno: Thiago Martins Lopes de Faria 

Resenha do texto-base: Hume – Investigação sobre o entendimento humano, seções II, III, IV e V

Neste texto Hume tenta investigar o princípio do entendimento da vida humana. Ele vai buscar explicar como surge a idéia e como elas são ligadas. As primeiras considerações que Hume traça ele mesmo confessa já haver conclusões iguais, mas ele acha importante refazer o mesmo caminho percorrido por outros filósofos. Para “demonstrar” suas teorias o autor lança mão de vários exemplos o que nem sempre ajuda a esclarecer a teoria defendida por Hume. Ele ainda usa os céticos como ferramenta para esclarecer os pontos defendidos do exclui-los. O autor encerrar este texto dividindo os objetos da razão humana em relação de idéias e relações de fatos. E termina concluindo como o costume é necessário à conservação da espécie e ao julgamento de condutas em todas as situações da vida humana. 
Na seção II, Da origem das idéias, é feita por Hume a definição da diferença entre percepção e memória ou imaginação. Para ele o pensamento imita ou tenta repetir as percepções mas nunca alcança a percepção totalmente. O exemplo de um homem à mercê dum ataque de cólera é estimulado de maneira muito diferente da de um outro que apenas pensa nessa emoção. É bastante esclarecedor a respeito do que Hume analisa. Ele ainda salienta que há uma divisão de todas as “percepções do espírito” em duas classes, distintas pelos diferentes graus de intensidade: as menos vivas são denominadas pensamentos ou idéia; as mais intensas, apesar de não haver um nome específico para elas, são consideradas impressões. É interessante, a analise do autor que defende que nosso pensamento é limitado e não ultrapassa as habilidades de combinar, aumentar, diminuir, de transpor os materiais que nos foram fornecidos pelos sentidos e pela experiência. Com a prova da limitação do pensamento o autor concluir que as idéias derivam das percepções e só existem mediante as sensações reais. Ele encerra essa seção com uma prova que contrária a si mesmo. Mas argumenta ser um caso singular e só por ela não há por que modificar a máxima geral. 

Na terceira seção, Hume trata acerca da associação das idéias e considera a existência de um princípio de interligação entre os diversos pensamentos e que, ao associar-se à memória, se introduzem regularmente. Observam-se três princípios de conexão entre as idéias: semelhança, contigüidade e causa ou efeito. 
De acordo com isso, autor utiliza-se de exemplos para ilustrar os princípios conectivos. Ele considera a poesia uma espécie de pintura porque ela nos coloca mais próximos do objetivo do que qualquer tipo de narrativa. Também segundo Hume, “um poeta épico não deve escrever uma longa série de causas, aparecerá mais adiante se considerarmos uma outra razão derivada de uma propriedade ainda mais notável e singular das paixões.” À poesia dramática jamais é permitido introduzir um ator sem conexão com os principais personagens do relato, um dos exemplos que caracteriza a interligação entre as idéias.
Verifica-se a necessidade de uma certa unidade em todas as produções, pois a relação estabelecida entre os mesmos, por exemplo, de uma história, é a de causa e efeito. É preciso proximidade e sensibilidade durante a conexão devido à vivacidade da imaginação na narrativa. A imaginação despertada por um objeto pode passar facilmente a um outro identificado com ele, porém não se mistura tão facilmente com objetos diferentes ou que não possuem conexão direta. O autor não se aprofunda na explicação desse tema, pois garante que “a explicação completa destes princípios e de todas as suas conseqüências nos conduziria a raciocínios muito profundos e prolixos para esta investigação”. Ele conclui que é suficiente estabelecer os três princípios das idéias que são a semelhança, de contigüidade e causalidade.
Na seção IV, dúvidas céticas sobre as operações do entendimento, Hume dividi em dois, os objetos da razão humana, que são as relações de idéias e relações de fatos. Com essa divisão feita pelo o autor ele vai procurar uma melhor explicação sobre as operações do entendimento. A diferença entre os fatos e as idéias, é a maneira como cada um é determinado. A evidência da verdade dos fatos não é de natureza igual à das idéias. Um fato pode ser contrariado já as idéias não podem. Hume acredita ter descoberto defeito na filosofia comum, e em cima dessas descoberta espera te ruma fundamentação mais completa e mais satisfatória. 
Ao analisar os fatos Hume destaca “todos os raciocínios que se referem aos fatos parecem fundar-se na relação de causa e efeito”. O autor propõem que devemos investigar como chegamos ao conhecimento da causa e do efeito para que nos satisfaçamos acerca da natureza da evidência quis nos dá segurança sobre os fatos, haja vista que nenhum objeto revela tanto as causas que o produziram quanto os efeitos provenientes dele. No entanto, nossa razão não pode, sem a experiência, inferir a respeito da existência de um fato. Portanto a razão não possibilita a investigação com base nela. A experiência é fundamental, pois apenas ela pode estabelecer as relações de causa e efeito. A conexão delas faz com que seja impossível outro efeito resultante da operação dessa causa. Dessa forma, “todo efeito é um evento distinto de sua causa”, segundo o autor. Com isso, Hume conclui que o maior esforço da razão humana consiste em reduzir os princípios que produzem os fenômenos naturais à simplicidade.
Mas isso trás um problema, a busca da simplicidade, contudo, gera a cada solução, uma nova questão tão complicada quanto a anterior e conduz a novas investigações. Mesmo após termos experiência das operações de causa e efeito, nossas conclusões não estão fundadas sobre qualquer processo de compreensão. 
Os raciocínios podem se dividir em demonstrativos – referentes às relações de idéias – e morais – ligados às questões de existência, demonstrados, também a partir de exemplificações, de modo a facilitar a apreensão por parte dos leitores.
Todas as conclusões empíricas advêm da suposição de que o futuro está em conformidade com o passado. Os argumentos oriundos da experiência se fundem na semelhança entre objetos naturais e induz a espera de efeitos similares àqueles resultantes de tais objetos. Somente após vários experimentos uniformes podemos nos tornar confiantes em relação a um evento em particular. 
Com isso, quando surge um novo objeto com qualidades semelhantes ao anterior, esperamos considerar as causas e os efeitos dele semelhantes ao anterior. Inferências empíricas supõem que, com isso, o futuro se assemelhará ao passado, uma vez que poderes semelhantes estarão conjugados com qualidades semelhantes. Qualquer indivíduo se aperfeiçoa pela experiência e adquire conhecimento das qualidades dos objetos naturais ao observar os efeitos que deles resultam. O raciocínio não nos induz a supor que o futuro se assemelha ao passado e esperar efeitos similares de causas aparentemente semelhantes. Hume nessa analise diz que nossas probabilidades sobre o futuro repetir o passado não provem de uma base racional e sim de uma base simplesmente montada pela experiência. 
Na quinta seção, o assunto refere-se à solução cética das dúvidas. A imprudência pode levar tanto a paixão religiosa como a paixão filosófica ao inconveniente. Portanto, parece existir uma corrente filosófica menos exposta a esse inconveniente, já que não se liga a qualquer paixão desordenada nem se alia a tendências naturais: a filosofia cética – ou acadêmica. Os membros da academia sempre falam da dúvida e da suspensão de juízo, além do risco de resoluções precipitadas. Não há necessidade de recear que os acadêmicos limitem os raciocínios da vida cotidiana e propaguem seus questionamentos até o ponto de desestruturar todas as ações e especulações, uma vez que existe uma prevalência dos aspectos naturais. 
A respeito da interdependência de eventos, Hume afirma: “Não há base racional para inferir a existência de um [evento] pelo aparecimento do outro. E, numa palavra, aquele homem, desprovido de experiência, jamais poderia conjeturar ou raciocinar sobre qualquer questão de fato...” Com relação ao costume ou hábito, o autor considera o seguinte: “Parece que esta hipótese é a única que explica a dificuldade que temos de, em mil casos, tirar uma conclusão que não somos capazes de tirar de um só caso [...]. A razão não é capaz de semelhante variação.” Observa-se, com isso, que o costume é baseado em verificações empíricas e parece difícil desassociá-lo da realidade da nossa vida cotidiana. Por meio de exemplificações, Hume ilustra bem esse aspecto. Ele considera o costume “o grade guia da vida humana”, no entanto é necessário que um fato esteja sempre presente à memória e ao sentido, a partir dos quais podemos tirar certas conclusões. O autor afirma que toda crença procede de um objeto presente à memória ou aos sentidos e de uma conjunção entre um e outro, inevitável quando nos encontramos em determinadas situações, como, amor e ódio, por exemplo.
A diferença entre ficção e crença localiza-se em algum sentimento ou maneira de sentir, anexado à última, independente da vontade e impossível de ser manipulado a gosto. A crença não se refere a nada além de uma idéia de objeto mais forte e estável do que a imaginação poderia, de alguma forma, obter. Cada ser humano a compreende de maneira clara na vida corrente.
Logo que uma idéia aparece aos nossos pensamentos, ela dirige nossa atenção em sua direção, através de uma mobilização suave. Essas idéias conectam-se, conforme dito anteriormente, por três nós: semelhança, contigüidade e causalidade. O autor, novamente, utiliza-se da exemplificação para esclarecer suas idéias a respeito desse tema.
Conclui-se, portanto, que existe uma espécie de harmonia estabelecida entre o curso da natureza e a sucessão de idéias. O costume consiste em um princípio necessário à conservação da espécie e ao julgamento de condutas em todas as situações da vida humana. A memória e os sentidos têm um papel importante na sucessão de idéias, além da presença de objetos, que despertam instantaneamente a idéia de objetos ligados a ele.


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