segunda-feira, 9 de março de 2009

Resenha do texto-base: Hume – Tratado da Natureza Humana Livro I, Parte IV, Seções I, II, VI e VII

Universidade Federal de Minas Gerais

Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas

Departamento de Comunicação social

Disciplina: Epistemologia

Professora: Anice Lima

Aluno: Thiago Martins Lopes de Faria

 

Resenha do texto-base: Hume – Tratado da Natureza Humana Livro I, Parte IV, Seções I, II, VI e VII

Seção I – Do ceticismo quanto à razão

 

    Hume inicia, primeiramente, sobre as faculdades humanas que são falíveis e existe uma grande disposição de cairmos em erros quando as aplicamos em análises. Para diminuir esse risco ao máximo, necessitamos, de algum modo, identificar e tentar controlar as pré-noções frente a um novo juízo. Para Hume, a relação de causalidade deve ser avaliada para razão (causa) e verdade (efeito). No entanto, o efeito pode ser evitado pelo surgimento de outras causas, como, por exemplo, a inconstância dos poderes da mente. Assim, podemos dizer que nosso raciocínio é inconstante e influenciável por causas diversas e, portanto, o conhecimento a que se chega por ele pode ser reduzido a probabilidades. O que atesta a verdade de uma probabilidade é a experiência, resolvendo tanto a incerteza inerente ao objeto quanto a probabilidade de erro na estimativa de verdade.

    Com isso, Hume conclui que os aumentos da confiança com relação a essas probabilidades ocorrem da soma de novas probabilidades a ela, levando em consideração as experiências e as observações passadas, continuamente com base nas relações constantes de causa efeito. Hume analisa, ainda, que conhecimento e probabilidade possuem naturezas contrárias e não poderiam se transformar um no outro, uma vez que eles não se dividem, pois devem estar inteiramente presentes ou ausentes.

   Após várias exposições acerca de conhecimento e probabilidades, o autor lança sua hipótese, que a experiência acerca de causas e efeitos é formulada pelo costume que se tem deles; o raciocínio é, portanto, uma crença, “uma sensação ou maneira peculiar de conceber”. A respeito da imaginação e das crenças, ele assegura que o excesso de imaginação impede o fluxo das paixões e os sentimentos. Quanto às crenças, elas não poderão se estabelecer se não estiverem baseadas em noções naturais e de fácil observação: “A crença, sendo uma concepção vivida, jamais pode ser completa se não estiver edificada em algo natural e fácil”. Hume termina a seção ao afirmar que a natureza destrói os argumentos céticos, baseados na análise de fatos e no regresso ao infinito, e os impede de exercer influências sobre o entendimento humano: “Ao contrapor essas causas contrárias, diminuo, por uma nova probabilidade está sujeita à mesma diminuição que a precedente, e assim por diante, ao infinito”.

 

 

 

Seção II – Do ceticismo quanto aos sentidos

 

    O tema da seção diz respeito às causas que nos induzem a confiar na existência dos corpos: “Podemos corretamente perguntar que causas nos levar a crer na existência dos corpos”. É, então, inútil perguntar se os corpos existem ou não; o que cabe saber são as causas que nos induzem a crer na existência deles. Por que se atribui uma existência contínua aos objetos, por que se supõe que tal essência do objeto é distinta da sua percepção?Com base nisso, Hume divide essa análise em duas vertentes, relacionadas à idéia da existência continua e distinta dos corpos, baseados nos sentidos e nas percepções humanas. Ele afirma que as duas divisões estão “estreitamente conectadas”.

    Os sentidos são incapazes de garantir a existência contínua dos objetos. Eles possuem a competência de definir a noção de uma existência distinta, entretanto não determinam uma existência contínua. Que nossos sentidos não oferecem suas impressões como imagens de alguma coisa distinta, independente e externa, é evidente. Quando a mente dirige sua visão para além daquilo que lhe aparece imediatamente, suas conclusões jamais podem ser levadas à conta dos sentidos. Para tal, devem apresentar impressões, derivadas de imagens e representações. Tudo que os sentidos nos comunica é uma percepção única, singular, nada além disso. Hume também afirmar que é absurdo imaginar que os sentidos alguma vez sejam capazes de distinguir entre nós e os objetos externos, já que todas as impressões (internas e externas) são equivalentes.

  O fato de se conhecer por meio dos sentidos (pois tudo o que entra na mente o faz por meio de percepções) não responde tal pergunta. Podemos, concluir com segurança que a opinião de uma existência contínua e de uma existência distinta nunca decorrer dos sentidos. Para confirmar tal conclusão, observemos que os sentidos nos transmitem três tipos diferentes de impressões. O primeiro tipo compreende as impressões da figura, volume, movimento e solidez dos corpos. O segundo, as de cores, sabores, aromas, sons, calor e frio. O terceiro compreende as dores e os prazeres resultantes da aplicação dos objetos a nossos corpos. Portanto, até onde os sentidos podem julgar, todas as percepções são iguais em seu modo de existir.

     No caso dos sons e das cores, podemos atribuir uma existência distinta e contínua aos objetos, sem jamais consultar a razão. A filosofia nos informa que tudo que aparece à mente não é senão percepção, e possui uma existência descontínua e dependente da mente; o povo, ao contrário, confunde percepções e objetos, atribuindo uma existência distinta e continua às próprias coisas que sente ou vê. Enquanto tomamos nossas percepções e objetos como a mesma coisa, jamais podemos inferir a existência destes da existência daquelas, e tampouco formar um argumento baseado na relação de causa e efeito. Nossa razão não nos fornece nenhuma certeza sobre a existência distinta e contínua dos corpos. Tal opinião deve ser atribuída inteiramente à imaginação.

    Depois de pensar sobre a razão e a imaginação no tratamento filosófico, Hume parte para a análise da continuidade. Ele afirma que todos os objetos que consideramos possuir existência contínua têm uma “constância peculiar”, o que os distingue das impressões proporcionadas pela percepção. A coerência na modificação é uma característica dos objetos externos, juntamente com a constância. Além disso, é impossível, segundo o autor, adquirirmos um hábito à não ser pela percepção. Ressaltamos também que a constância nas impressões do sentido é descoberta somente pela experiência. Existe uma tendência em fantasiarmos a existência contínua de todos os objetos sensíveis, derivando de impressões fortes da memória, o que concede uma vividez às ficções e nos leva a creditar na existência contínua dos corpos. Um pensamento interessante de Hume é o seguinte que sem a lembrança de sensações anteriores, nunca depositaremos uma crença na existência contínua dos corpos.

    Todas essas explicações exprimem um sistema filosófico que opõe a reflexão a vividez das percepções e que está em sintonia com o sistema popular que julga o objeto como o que se percebe dele. Esse sistema aceita, de fato, a analogia entre os objetos externos (causas) e as percepções internas que se tem deles (efeitos) e a capacidade a completar toda união entre idéias somando novas relações às primeiras que se tem. Mas, lembrando que é um sistema fundado sobre opiniões, que podem ser infundadas e extraordinárias, surge ainda uma dúvida cética com relação à validade do próprio sistema. O recurso de tal dúvida ficaria num desapego às reflexões profundas que trazem a dúvida, ou seja, em algo que se aproxima mais à vida prática, pela qual não é possível negar que permanece, assim dois mundos, um externo e um interno.

 

 

Seção VI – Da identidade pessoal

 

            Hume começa esta seção ao fazer exposições a respeito do pensamento filosófico com relação à consciência do nosso EU.  O eu é a referência às impressões e idéias e não é, assim sendo, uma impressão ou uma idéia. O que faz supor a existência invariável e ininterrupta do eu ao longo da vida. Novamente, trata-se de uma crença: o eu (alma) é criado para encobrir a descontinuidade das percepções dos sentidos. O autor afirma que toda idéia real sucessivamente se origina de impressões. Contudo, o eu não constitui uma impressão, mas sim a que as impressões teoricamente se referem. Ele ressalta, porém, que não há nenhuma impressão constante e invariável, sendo esse um processo dinâmico. Quando as impressões são impossibilitadas temporariamente, como em um sono profundo, por exemplo, podemos dizer que existe a indiferença de si próprio.

            A mente constitui-se, fundamentalmente, pelas percepções em sucessão. Por isso, necessitamos discernir a identidade pessoal quanto ao pensamento e quanto a paixões que temos por nós mesmos. O conceito de identidade ocorre da idéia distinta de um objeto que permanece invariável ao longo do tempo. Em relação ao eu, os outros e os objetos em geral são exclusivamente percepções, mas também dotadas de uma identidade. A mente do eu consegue mesmo acompanhar variações nesses outros, mantendo-lhes a identidade quando estão já distintos e conferindo-lhes identidades de coisas diferentes com as quais esses outros mantêm relações de semelhança. Chega-se até a constituir uma mesma identidade a objetos prudentemente diferentes, como por exemplo uma igreja de tijolos que foi derrubada para que outra, de pedra, fosse construída, e diz-se tratar da mesma igreja; ou um rio, que por mais que abrigue sempre águas diferentes permanece sempre o mesmo rio. Tais processos têm o objetivo de facilitar a transição da imaginação por entre o não-eu.

  Os seres humanos inventam uma ficção da existência contínua das impressões, com o intuito de extinguir a descontinuidade. Dessa forma chegamos à caracterização da alma, para manter a idéia de invariabilidade dos objetos e do próprio eu. Hume diz que a alteração de uma parte considerável de um corpo destrói sua identidade; mas é de se notar que, quando a alteração se produz de forma gradual e insensível, nossa tendência a atribuir a ela esse mesmo efeito é menor. Quando as mudanças referidas se tornam consideráveis, a atribuição da identidade a objetos tão distintos é questionada.

            Com analogia aos homens, a identidade que atribuímos à mente humana é, segundo o autor, somente fictícia, de um tipo semelhante à que atribuímos a vegetais e corpos animais. Ela deve proceder de um modo semelhante da imaginação sobre objetos semelhantes.

            Hume analise também as relações que produzem o progresso ininterrupto do pensamento. Ele deixa de lado a contigüidade que para ele possui pouca influência no caso da identidade pessoal. Dessa forma, o autor avalia os casos de semelhança e causalidade. Ele conclui que a identidade depende exclusivamente das relações de idéias. Essas relações são tão abertas que produzem a identidade através da transição fácil por que são conduzidas.

 

Seção VII – Conclusão deste livro

 

    Aqui é mostrada a preocupação do com o futuro pelas perplexidades passadas e pela memória de seus erros. A desordem das faculdades que foi constrangido a utilizar também aumenta o temor do pensador. Adicionado a isso, a impossibilidade de melhorar as faculdades reduz o pensamento de Hume ao desespero. O desespero do autor acontece devido a analise de que a experiência e o hábito são as ferramentas de compreensão do passado e de expectativas para o futuro; adicionados à imaginação, tem-se que as idéias ocorridas à mente humana exercem apelos de intensidades variadas. Ora, a imaginação é um princípio demasiado frágil para sustentar a teia de conhecimento humana; ainda assim, a natureza garante a sua relevância, tendo em vista que uma reflexão racional, puramente cética, acabaria por destruir as evidências que coordenam a vida prática.Ele se encontra em meio a dúvidas e pensa encontrar, a todo o momento, a ignorância, pois dá cada passo com hesitação.

    Os princípios que o instruíram foram, sem dúvida, o hábito e a experiência. O hábito determina a confiar o mesmo do passado para o futuro, operando sobre a imaginação e formando certas idéias de maneira intensa e vívida. A experiência conduz acerca das diversas relações de objetos no passado.O autor considera que nada é mais meticulosamente investigado pela mente humana que as causas de todos os fenômenos. E não nos contentamos em saber as causas imediatas; prosseguimos nossa busca até chegarmos ao princípio original e último. A busca do conhecimento da causa é, segundo Hume, inerente à mente humana. Contudo, não percebemos que somos ignorantes, nas conjunções mais simples de causa e efeito, tanto nos últimos princípios quanto nos mais incomuns.Ele ainda afirma,  estar absolutamente preparado para  viver, falar e agir como as outras pessoas, nos assuntos da vida corrente. Garante, além disso, não poder fechar os olhos de sentir curiosidade a respeito dos princípios da moral e do bem, a natureza e os fundamentos governamentais, sem esquecer a causa das várias paixões e inclinações que o governam. Faz ainda considerações acerca da superstição, considerada mais audaciosa em suas hipóteses do que a filosofia.

            Hume finaliza afirmando que a natureza humana, única ciência humana, tem sido negligenciada. Acredita também que o comportamento de um homem que estuda filosofia de modo descuidado é mais cético que a do que rejeita o conhecimento inteiramente. As considerações sobre o verdadeiro cético traduzem, resumidamente, a opinião do autor com relação ao ceticismo e as convicções céticas, temas principais deste estudo.

 

COMENTÁRIO CRÍTICO

    Vou começar a análise sobre a relação das falsidades dos sentidos, a proposição de Hume é pertinente e observável pelas próprias experiências que temos ao longo da vida. Os sentidos podem servir para aprovar alguma observação ou para colocá-la em ambigüidade, de acordo com a clareza e o grau de certeza que eles proporcionam às mentes. A identificação das pré-noções é de importância fundamental para amortizarmos o risco de erros. Com isso, podemos estabelecer um novo juízo de autoridade, e não de valor, como aconteceria com os pré-conceitos. A soma das probabilidades também é observável, uma vez que existe, com ela, consideramos as experiências passadas. Essa concordância  com essa proposição provem da nossa própria experiência pessoal.

Os conceitos de existência continua e distinta são complexos. Mas podemos verificar que os sentidos, de fato, não podem afirmar que exista continuidade nos objetivos, pois, ao deixar de percebê-los, não podemos confirmar a existência deles. Os sentidos promovem a distinção dos objetivos, mas nem sempre é possível ter certeza desse aspecto, já que os sentidos são passíveis de falhas. Outras características podem diminuir o grau de certeza que temos com relação às impressões.

O autor ainda frisa o conceito das relações que lançam o progresso ininterrupto do pensamento: semelhança, contigüidade e causalidade. As considerações a respeito das relações produzem um encadeamento das idéias, de modo que o consideremos quase natural. Apesar de o autor não achar a contigüidade tão importante no estudo em questão, ela não deixa de ter importância considerável nas relações. Acredito que  o autor quando ele diz que a identidade depende unicamente das relações de idéias esta certo. Através delas podemos transitar pelos vários assuntos e compor nossa identidade a partir das impressões e de suas cópias, as idéias.

 

 

 

 

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