terça-feira, 17 de março de 2009

JACKS, Nilda. Comunicação, cultura e identidade: confluências. In: ______. Querência: cultura regional como mediação simbólica. Porto Alegre: Ed. Univ

Fichamento 10

Universidade Federal de Minas Gerais

Comunicação Social / 2º Período

 

Nome: Thiago Martins

Disciplina: Teoria da Comunicação

Professora: Vera França

 


JACKS, Nilda. Comunicação, cultura e identidade: confluências. In: ______. Querência: cultura regional como mediação simbólica. Porto Alegre: Ed. Universidade / UFRGS, 1999.

 

·        Os meios de comunicação de massa eram vistos como alheios e prejudiciais à cultura. Essa visão está ligada às perspectivas da Escola de Frankfurt. Os autores latino-americanos Jesús Martín-Barbero e Nestor García Canclini romperam com tais tendências e demonstraram os limites dessas visões.

·        Martín-Barbero reconstitui historicamente o processo de massificação evidenciando que o surgimento de deste é anterior à indústria cultural, tirando o peso absoluto que os meios tinham no processo de massificação cultural. Já Canclini mostra que a cultura contemporânea é “híbrida”, pois não tem caráter nem popular, nem massivo e nem culto, legitimando o papel cultural dos meios de comunicação.

·        As duas concepções relacionam cultura e comunicação, rompem com as visões totalizantes, mostram a natureza da comunicação e redefinem a função do receptor como sujeito ativo na recepção.

·        Essas visões são uma saída teórica e política para os problemas da comunicação e cultura na América Latina.

·        Essa perspectiva pode ser enquadrada, no plano internacional, na discussão sobre a crise de algumas correntes de pensamento ligadas a paradigmas que encaram tais processos de forma globalizante.

·        “Os novos enfoques preterem a leitura ideológica, a concepção instrumental da linguagem, a idéia de dominação e de reprodução mecânica do social, a objetividade e a racionalidade únicas...” (p.31)

·        Para Martín-Barbero, a nova visão coloca a comunicação no campo dos processos socioculturais e propõe o estudo dos fenômenos comunicacionais através das mediações.

·        Ver os problemas de comunicação como culturais, e vice-versa, destrói a dualidade criada a partir de disciplinas segmentadas para compreender um processo contínuo, pois não há possibilidade de diferenciar as fronteiras entre popular, massivo e culto.

·        Tal fusão é chamada por Martín-Barbero de “mestiçagem”.

·        Canclini acha que isso se trata de “hibridização”, que seria a trama majoritariamente urbana, onde há uma oferta simbólica heterogênea, sempre renovada pela interação local com a rede nacional e transnacional de comunicação.

·        Esse conceito serve para pensar tudo o que não se enquadra nos rótulos de culto, massivo ou popular.

·        O processo de hibridização põe no mesmo plano as diferentes manifestações da cultura atual, acabando com as fronteiras criadas pela modernidade. Tradicional e moderno já não são tão opostos assim.

·        “... houve uma flexibilização do vínculo entre classes sociais e estratos culturais, evidenciada por uma circulação mais fluida dos bens simbólicos.” (p.34)

·        Surgem novas formas de identidade cultural que não devem ser vistas como autênticas e nem ligadas a só um território.

·        Para Canclini, a identidade cultural da América Latina está concebida na interculturalidade que é captada nas formas desiguais de apropriação e está apoiada nas diferenças e nas intersecções.

·        O território deve ser acrescentado às participações em redes comunicacionais.

·        Canclini conclui que a modernidade e a pós-modernidade não acabam com o tradicional, apenas o transformam, e a identidade deve ser histórica, e não atemporal.

·        Martín-Barbero pensa que a identidade latino-americana é construída pela mestiçagem que dá características ao processo cultural.

·        Ele mostra a necessidade de romper com a razão dualista. “Nacionalismo populista” e “desenvolvimentismo iluminista” estão frente a frente.

·        Este autor entende a identidade como uma construção histórica e a vê como um processo mediado por diferenças que convivem no mesmo cenário. Ela indica alguns fatores que devem ser tratados: a) o indígena; b) o popular; c) a transnacionalização do sistema comunicacional; d) a defesa da identidade nacional.

·        Martín-Barbero considera a importância das culturas regionais e locais, e a possibilidade da construção das identidades através dos meios de comunicação também. Entretanto, ele não desconsidera as estratégias do mercado transnacional para adentrar as culturas nacionais. Apenas alerta que não se deve confundir todos os processos de comunicação como negação cultural.

·        Evidencia que o cinema e o rádio proporcionaram às pessoas de diversas regiões uma primeira vivência cotidiana da Nação.

·        Os meios de comunicação efetuaram uma função política na criação das culturas nacionais.

·        Um importante agente de integração da cultura brasileira é a TV.

·        A cultura acompanhou, no fim da década de 50, o clima de nacionalismo provocado pela política de Juscelino Kubitschek e a partir de 1961 com João Goulart.

·        A partir da década de 60, quando a TV atingiu maiores camadas da população, a telenovela ganhou prestígio no Brasil.

·        Beto Rockfeller foi o marco da fase que retratou a realidade nacional. A partir desta, a produção de telenovelas passou a ser permeada por manifestações surgidas de outros campos da cultura, como o Tropicalismo e o Cinema Novo.

·        Um fator de abrasileiramento das telenovelas foi a origem dos autores, que não estão ligados à tradição do melodrama. Eles apresentam uma proposta estética melhor e dessa forma, a telenovela ganha maior identificação com a cultura nacional e maior qualidade estética. 

·        Nas novelas das 18 horas, a Globo passa a aplicar o nacionalismo e pedagogismo alcançando o abrasileiramento definitivo do gênero.  

·        A concepção estética dentro do realismo busca retratar, discutir e criticar a realidade do Brasil por meio das novelas. A participação dos intelectuais foi importante, pois a maioria estava envolvida com projetos nacionalistas de esquerda.

·        O gênero da telenovela se torna uma expressão nacional e sua temática, linguagem e dramaturgia se definem para formar um produto massivo brasileiro de grande sucesso dentro e fora do país.

·        A entrada de autores da “geração audiovisual” trouxe, na década de 80, uma diversificação da produção de telenovelas. Ocorre um aumento da valorização do mercado e uma diminuição do interesse por questões nacionais.

·        Essa entrada de novos autores com visão diferente sobre a cultura brasileira não acabou, porém, com a produção de novelas preocupadas em retratar a cultura nacional.

·        “Compactando peculiaridades regionais na busca de uma ‘síntese nacional’ o universo ficcional da telenovela fez uma referência direta à realidade brasileira...” (p. 45).

·        Em termos de linguagem, a década de 90 rompeu com certos padrões que estavam sendo trabalhados e usou principalmente cenas externas, panorâmicas e câmera lenta.

·        Ao mostrar e discutir as realidades urbana e rural do Brasil, as telenovelas têm-se apropriado de temas que remetem à cultura ou à identidade nacional.

 

AS PESQUISAS DE RECEPÇÃO E O ESTUDO DAS MEDIAÇÕES

 

·        As pesquisas de comunicação inseridas na vertente “crítica” têm incorporado a recepção como objeto de estudo.

·        A passagem do objeto para fora dos meios e das mensagens resulta na transformação do receptor em sujeito, negando a idéia de que esse recebe as mensagens de forma passiva e alienada.

·        Isto passa a ser possível a partir da superação da concepção marxista de Ideologia e dos estudos sobre os Efeitos da Teoria Condutivista.

·        Para estudar recepção é necessária uma nova postura metodológica.

·        Nessa visão, o receptor ganha o status de produtor, mas esta não pode ser encarada como uma co-produção.

·        Há, portanto, dois sujeitos: emissor e receptor. Nesta relação há as mediações, que são várias e têm diferentes origens.

·        “Mediação pode ser entendida, portanto, como um conjunto de elementos que intervêm na estruturação, organização e reorganização da percepção da realidade em que está inserido o receptor, tendo poder também para valorizar implícita ou explicitamente esta realidade. As mediações produzem e reproduzem os significados sociais, sendo o ‘espaço’ que possibilita compreender as interações entre a produção e a recepção”.(p.48 - 49)

·        O cotidiano tende a ser o espaço privilegiado para abordar as mediações, pois é nele que os estudos de recepção vêm os elementos simbólicos realizadores do contato do indivíduo com a sociedade.

·        Como conseqüência dessas pesquisas houve novas abordagens como: “o uso social dos meios”, ligada a Martín-Barbero e o “enfoque integral da audiência”, encontrada em Guillermo Orozco.

·        O “uso social dos meios” vem do estudo das ligações entre as práticas comunicacionais e os movimentos sociais, das diversas temporalidades e pluralidades culturais.

·        De acordo com Martín-Barbero, tal perspectiva foi originada na superação da dualidade surgida pelo “nacionalismo populista” e o “progressismo iluminista”.

·        Isso provoca o deslocamento do eixo estabelecido na produção para o campo do consumo.

·        Três mediações são propostas por Martín-Barbero: cotidianidade familiar; temporalidade social; competência cultural, para captar referências culturais onde são concretizadas.

·        Os “usos” não podem ser retirados da situação sociocultural dos receptores, que dão sentido aos conteúdos massivos de acordo com sua experiência cultural.

·        A vertente de Guillermo Orozco considera a de Martín-Barbero uma derivação da hipótese “dos usos e gratificações”.

·        O seu questionamento é como é realizada a interação entre televisão e audiência.

·        A primeira conseqüência em ver a audiência como sujeito é considera-la condicionada individual e coletivamente. A segunda implicação é que ela se constitui de muitas formas e se diferencia ao longo do tempo.

·        A TV é também uma mediadora, pois além de ser um meio tecnológico de reprodução do real, também o produz, criando reações emocionais e racionais nos receptores. O receptor faz também mediações psicológicas determinadas pelos fatores socioculturais.

·        Duas mediações centradas no indivíduo são indicadas por Orozco: a cognitiva e a estrutural.

·        A primeira se trata de um conjunto de fatores influenciadores da percepção, no processamento e apropriação de elementos. Dessa forma, ela excede a racionalidade.

·        Segundo este autor, “roteiros mentais” são uma seqüência de eventos organizados, em função de um objetivo, que é realizada por uma pessoa em um “cenário” social determinado. A centralidade na atuação do sujeito é o opõe a idéia de roteiro às outras concepções.

·        “A mediação estrutural tem como elementos determinantes idade, sexo, escolaridade, estrato socioeconômico, etnia, etc.” (p.54)

·        Esses são fatores pertencentes ao processo de criação dos roteiros. Eles influem desde o modo de perceber e apropriar até o de elaborar a interpretação das mensagens.

·        A mediação situacional atua no momento da recepção. O estudo dessa mediação pode mostrar o sentido do ato da recepção no espaço em que ocorre, que, é quase sempre, o lar. Ela pode mostrar como a emissão da TV chega ao receptor.

·        As mediações institucionais são aquelas realizadas pelas instituições com as quais o indivíduo tem contato. Fazer parte de muitas instituições ao mesmo tempo faz com que se tenha um referencial múltiplo e inter-relacionado.

·        Essas mediações servem de cenário onde acontece a recepção e são dadas as apropriações das mensagens. Servem também como fontes de referência e como “Comunidades de interpretação”.

·        São apontadas as mediações de referência, que correspondem a todo tipo de identidade a que os receptores estão submetidos. Elas podem ser desempenhadas por qualquer mediação anteriormente citada.

·        A mediação cultural é chamada por Orozco de mediação com M maiúsculo, pois é aquela que todas as outras se localizam.

·        “A mediação cultural é o terreno no qual todas as informações se originam, onde o consumo se efetiva e o sentido é produzido”. (p.57)

·        A cultura contextualiza o indivíduo e suas mediações.

·        As mediações pressupõem que a recepção começa bem antes e termina bem depois da audiência da TV.

·        Os cenários podem ser o local da recepção ou os referentes que influem no processo de apropriação das mensagens.

·        A combinação de várias mediações dá a produção de sentido.

·        “Comunidade de apropriação” são os diferentes “âmbitos de significação”, através dos quais a mensagem de TV transita por uma mesma audiência, até que se chegue a uma interpretação final, mas não necessariamente permanente.

·        O receptor passa a ter várias “comunidades de referência” quando pertence a diversas comunidades de apropriação.

·        Fazendo um corte em certa etapa da recepção, o investigador pode transformar as comunidades de apropriação em comunidades de referência. As comunidades de referência podem, ou não, coincidir com as de apropriação.

·        Orozco também propõe a análise das “comunidades interpretativas” que são a combinação específica de mediações. Elas são uma resultante da apropriação. 

·        Tanto a comunidades de apropriação quanto a de referência podem ser conhecidas antes da produção do sentido final.

·        Entende-se por “comunidade de interpretação” o conjunto de sujeitos sociais unidos por uma significação, da qual surge uma significação específica para a sua atuação na sociedade e que coincide com o seu território.

·        Exceto através da conceituação de “comunidade de interpretação” e da possibilidade experimental de trabalhar a cultura como “comunidade de referência”, Orozco não desenvolve muito conceitual e metodologicamente a mediação cultural. 

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