terça-feira, 17 de março de 2009

BENJAMIN, Walter. A obra de arte na época de suas técnicas de reprodução. In: Os pensadores. Textos escolhidos. São Paulo: Abril Cultural, vol. XLV

Fichamento 09

Thiago Martins

17.11.05

Teorias da Comunicação


BENJAMIN, Walter.  A obra de arte na época de suas técnicas de reprodução.  In: Os pensadores. Textos escolhidos.  São Paulo: Abril Cultural, vol. XLVIII, 1975.

 

  • Em todas as épocas vemos as obras de arte sendo reproduzidas, mas apenas com o desenvolvimento das técnicas de reprodução que o fenômeno foi consolidado a ponto de modificar as formas de fazer arte.
  • A arte original possui um hic et nunc que a reprodução não possui. Hic et nunc é o ‘aqui e agora’, a aura da obra. Algo de natureza inatingível, a unicidade da obra no lugar em que ela se encontra e que está vinculada à sua história. Porque a reprodução não possui tais características?
    • Em primeiro lugar, a noção de autenticidade já não comporta qualquer tipo de reprodução, técnica ou não. Autenticidade é “tudo aquilo que ela contém e é originalmente transmissível, desde sua duração material até seu poder de testemunho histórico” (BENJAMIN, 1975: 14). A reprodução técnica deixa intacto o conteúdo da obra de arte, mas ela perde o seu hic et nunc.
    • Em segundo lugar, a arte tem seu valor de culto, a sua tradição. Quando reproduzida, uma obra de muito tempo, que pode ter levado anos para ser concluída é atualizada, levada ao público de maneira nova. A reprodução não respeita o valor histórico, é sempre atual. Dessa forma, a reprodução, ou a arte depois do desenvolvimento das técnicas de reprodução não tem mais a história, a tradição, o valor de culto que a arte antes dessa época. Antes, as obras de arte estavam relacionadas a um ritual, eram algo sagrado. Com sua reprodução, a arte pode ser vista em qualquer lugar, ser dobrada e colocada dentro do bolso. Perdem assim o seu valor de culto, mas ganham proximidade com seu público. Antes, a arte era algo afastado do cotidiano. Hoje, a arte é reproduzida em todo lugar.
      • “Multiplicando as cópias, elas transformam o evento produzido apenas uma vez num fenômeno de massas. Permitindo ao objeto reproduzido oferecer-se à visão e à audição, em quaisquer circunstâncias, conferem-lhe autoridade permanente” (BENJAMIN, 1975: 14). Ou seja, elas perdem a sua tradição.
    • Em terceiro e último lugar, tratemos da aura. Podemos resumir todas as falhas da reprodução da arte na quebra da aura.Aura é “a única aparição de uma realidade longínqua, por mais próxima que esteja” (BENJAMIN, 1975: 15). Como as coisas vêm se tornando cada vez mais próximas e os locais onde percebemos, apreciamos, fruímos a arte através de sua reprodução, ela não tem mais a sua natureza inatingível, sua realidade longínqua de quando a fruímos pela primeira vez em um museu, por exemplo. A aura de uma obra só aparece uma vez com sua força total para cada um, e somente na obra original. Uma vez reproduzida, ela se perde. “A imagem associa de modo bem estreito as duas feições da obra de arte: a sua unidade e a sua duração; ao passo que a foto da atualidade, as duas feições opostas: aquelas de uma realidade fugidia e que se pode reproduzir indefinidamente” (BENJAMIN, 1975: 15).
  • Pela primeira vez na história do mundo, a arte é produzida sem outro significado além de fazer arte. Ou mesmo é feita para lucrar com a sua produção. Ela perde o seu papel ritualístico e com isso as ocasiões me que ela é exposta também aumentam.
  • O deslocamento dos valores que movem a arte a faz mudar não somente de forma quantitativa mas também qualitativa, afeta sua própria natureza. De tal modo que podemos separar a arte em ‘antes da evolução das técnicas de reprodução’ e ‘depois da evolução das técnicas de reprodução’. Antes, a arte tinha um caráter mágico, ritualístico para depois ser considerada arte. Hoje ela já nasce com a função artística, mas também tem outras funções conscientes, como o entretenimento e a divulgação de valores. O valor artístico é apenas mais uma das características.
  • “Pela primeira vez, e em decorrência do cinema, o homem deve agir com toda a sua personalidade viva, mas privado da aura” (BENJAMIN, 1975: 22). A aura não sofre reproduções e depende do hic et nunc, que não existe em uma reprodução. À medida que a aura não pode ser reproduzida, o cinema cria um culto ao astro de cinema, para tentar substituí-la. A magia do cinema é conferida pela personalidade dos atores, que se venderam à reprodução capitalista.
  • Vale falar ainda que hoje, com os diversos recursos disponibilizados ao público, qualquer um pode escrever e publicar suas idéias. Benjamin ficaria interessado em ver como essa possibilidade aumentou com o advento da internet. Qualquer um pode ser escritor, o papel de autor e de público só varia com as circunstâncias, pois devido à multiplicidade e acessibilidade de técnicas a produção de arte se torna um bem comum.
  • Ao mesmo tempo, como a partir do século XIX as obras de arte passam a ser vistas por muito mais gente que nas épocas anteriores. Elas não habitam mais o fundo de templos e casa senhoriais, mas sim recebem permissão para ser mostradas às massas, e mais: são feitas para as massas.
  • O cinema, com a captação do movimento, alargou os sentidos visuais e auditivos, acarretando em um aumento da percepção. “Pode-se reconhecer, doravante, a identidade entre o aspecto artístico da fotografia e o seu uso científico, até então amiúde divergentes” (BENJAMIN, 1975: 28). O cinema nos faz enxergar as necessidades dominantes de nossa via, mas também abre a nossa visão para um campo de visão até então desconhecido, ou com pouca atenção.
  • Ele pode manipular o ritmo das ações dando mais ênfase para um gesto ou outro, de forma a abrir a experiência de nosso inconsciente visual.

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