terça-feira, 17 de março de 2009

BERGER, Christa. A pesquisa em comunicação na América Latina. In: HOHLFELDT, Antonio, MARTINO, Luiz e FRANÇA, Vera V., (org). Teorias da Comunicação.

Fichamento 11

Universidade Federal de Minas Gerais

Comunicação Social / 2º Período

 

Nome: Thiago Martins Lopes de Faria

Disciplina: Teoria da Comunicação

Professora: Vera França

 


BERGER, Christa. A pesquisa em comunicação na América Latina. In: HOHLFELDT, Antonio, MARTINO, Luiz e FRANÇA, Vera V., (org). Teorias da Comunicação. Petrópolis: Vozes, 2001.

 

·        O que mais incentivou os estudos da comunicação na América latina foram as demandas políticas e sociais. O contexto desses estudos é a dependência estrutural que evoca a cultura da submissão, do silêncio, mas também da resistência e da luta.

·        São feitas, desde a década de trinta, estudos sobre o jornalismo, liberdade de imprensa e legislação.

·        A influência norte-americana entra na América Latina por causa da tradição de importar e incorporar idéias alheias.Os EUA trouxeram consigo os métodos, os temas e o Ciespal (Centro Internacional de Estudios Superiores de Periodismo para América Latina), que organizou os primeiros estudos de comunicação no local. O contexto em que o Ciespal foi fundado foi o da Aliança para o Progresso, como uma resposta aos acontecimentos na América Latina.

·        O Ciespal foi criado em 1959 pela Unesco, OEA e governo equatoriano. Instalou-se em Quito e ofereceu cursos de aperfeiçoamento profissional para pessoas que atuavam na comunicação de massa.

·        A descrição se sobrepôs à análise e desenvolveu-se ali o modelo difusionista que deu origem à divisão comunicação ou extensão.

·        A difusão na agricultura e a estrutura e função dos meios impressos e eletrônicos, comunicação educativa e programação especial de programas rurais foram as áreas mais influenciadas pela orientação norte-americana.

·        “O Ciespal foi [...] a principal ponte entre os especialistas, as escolas e os diversos centros de reflexão e, com a difusão de suas publicações, iniciou e sustentou um importante esforço de reflexão sobre os problemas da comunicação, além de ter formado um centro de documentação especializado, registrando a memória histórica sobre os meios da região”. (p.243)

·        Em 1973, o Ciespal foi redirecionado e as principais críticas foram quanto: à falta de conceitos próprios, de juízos críticos, de sistematização, de visão qualitativa profunda, de engajamento político, social e econômico, à preferência por temas limitados, à concentração excessiva em meios de comunicação de massa, à falta de racionalidade da pesquisa, de coordenação, e ao enclausuramento das disciplinas.

·        A partir desta avaliação, o Ciespal passa a buscar raízes na América Latina, preocupando-se com a comunicação popular, a pesquisa participante, substituindo os professores estrangeiros por latino-americanos.

·        Em 1959, surge na Venezuela o Instituto Venezuelano de Investigaciones de Prensa de la Universidad Central. Este centro deu origem ao ININCO (instituto de investigaciones de la Comunicación), de 1973, cujo objetivo é pesquisar a comunicação de massa, analisando os meios e suas incidências na região.

·        Assim, Equador e Venezuela são os primeiros a abrigar a pesquisa em comunicação.

·        Em 1970 é criado o CEREN (Centro de estudos da Realidade nacional) no Chile, vinculado à Universidade Católica. Ele realizou pesquisas sobre o domínio das multinacionais na comunicação da América Latina, com base nas idéias marxistas de ideologia e conflitos de classe. Depois se estendeu para toda a América Latina marcando a identidade dos estudos latinos.

·        Após o golpe militar no Chile, o grupo se desfez e alguns membros passam a se encontrar no México no ILET (Instituto Latino-americano de Estúdios Transnacionales). O ILET foi a principal instituição difusora de propostas de meios para democratizar a comunicação no continente.

·        Por meio do difusionismo e do extensionismo, o funcionalismo se abriga no Ciespal iniciando a preocupação com a comunicação regional.

·        Tanto o marxismo quanto o funcionalismo disputam a abordagem da comunicação, além da sociologia e da semiologia.

·        Apenas no fim dos anos 60 e início dos 70 que se inicia um estudo realmente latino-americano, pois se começa a pensar na situação de subdesenvolvimento e incorpora-la na análise dos meios.

·        O contexto político é a marca da reflexão.Surge uma oposição ao american way of life.

·        As ditaduras no Cone Sul dificultaram a concretização do sonho marxista na América Latina.

 

1.      As revistas inaugurais

 

·        “As revistas de comunicação estiveram inicialmente ligadas aos centros de estudos, assim como hoje estão ligadas aos programas de pós-graduação”.(p. 248)

·        As revistas Comunicación y Cultura, do CEREN, e Lenguajes, da Associação Argentina de Semiótica, foram as que mais expressaram preocupação com a comunicação.

·        Elas tinham preocupação com a função dos intelectuais na transformação. E eram inspiradas no estruturalismo e na semiologia. Reivindicavam a teoria ligada á prática.

·        Comunicación y Cultura foi a primeira a fazer exclusivamente pesquisas em comunicação. Ela persistiu mesmo após o fim do CEREN.

·        Chasquí, publicada por Ciespal, dava prioridade à comunicação alternativa e à democratização da informação. Discutiu os currículos de comunicação para escolas da região e divulgou experiências de comunicação.

·        Durante treze anos, foram publicados Os Cuadernos Del ILET, que revelaram o caráter militante do centro. Defendiam a transnacionalização dos meios de comunicação por meios do campo político.

·        A revista de Felafacs é a Diálogos de la Comunicación. É considerada a revista teórica das faculdades de comunicação. Os três principais enfoques eram: discussão de temas atuais, ensino de comunicação e informes de pesquisas.

·        As revistas Comunicación y Sociedad e Culturas Contemporáneas surgiram no México no final dos anos 80.

·        Em 1999, foi lançada no Brasil pela Cátedra Unesco, a revista Pensamento Comunicacional Latino-americano.

 

  1. Os pais fundadores

 

·        Todos os principais teóricos da América Latina fizeram uma abordagem crítica da comunicação vinculada ao contexto de seus países e ao continente como um todo. Isso reafirma a questão de que os estudos na América Latina sempre foram uma questão política.

·        A primeira pesquisa sobre multinacionais foi realizada no CEREN e é denominada Agressão desde o espaço. Ela tentava identificar e entender a campanha internacional contra o socialismo no governo feita por meio da SIP (Sociedade Internacional de Prensa).

·        “O mais importante nestes escritos iniciais de Mattelart e dos intelectuais que trabalharam com ele é a busca de aportar elementos conceituais para tomar distância frente aos fenômenos mediáticos e de propor novos modos de fazer comunicação”. (p.253)

·        Para Antonio Pasquali afirma que a escola de Frankfurt é muito importante para quem estuda teorias da comunicação. Ele foi considerado por Alicia Entel o autor latino-americano mais influenciado por essa escola.

·        Foi criado no ano de 1973 o ININCO, onde Pasquali desenvolveu estudos teóricos, projetos de política de comunicação para a Venezuela.

·        Luis Ramiro Beltrán tem como principal livro o Comunicação Dominada. Ele busca compreender os modos de dominação e imperialismo norte-americano pelos meios de comunicação.

·        Eliseo Verón apresenta, na Argentina em 1967, em um seminário de lingüística um texto de análise da imprensa. Ele levou a problemática ideológica para o campo da comunicação. 

·        “Mattelart e Verón, passaram por caminhos diferentes, concordavam que o modo de produção é que determina a forma como o ideológico opera e que a análise deveria buscar esclarecer o seu princípio organizativo”. (p. 256)

·        Pelo seu livro escrito em 1968, Paulo Freire é incluído aos pesquisadores da comunicação. Ele não tratou da comunicação de massa, mas orientou interpretações na área.

·        A maioria dos textos desse grupo tem relação com o comprometimento político, denunciando o funcionalismo, a TV comercial, fluxos internacionais da notícia, histórias em quadrinhos, etc. Há uma forte denúncia da comunicação de massa dos anos 60 e 70. “A convergência da análise ideológica com a da teoria da dependência econômica tornava clara e concreta a complexa rede de dominação”.(p. 257)

·        Mesmo com a presença do termo Indústria Cultural nos textos, não quer dizer que eles sejam uniformes, nem que façam parte da escola de Frankfurt.

·        Pode-se dizer que a pesquisa se resume a duas áreas: estudo da estrutura de poder dos meios de comunicação e estratégias de dominação dos países capitalistas; e sobre os “discursos” e as mensagens da cultura de massas.

·        Foram consideradas pelos pesquisadores latino-americanos a estrutura e a função mercantil dos meios, e a expressão das contradições predominantes na cultura. Acumulou-se, então, um grande material empírico.

·        A preocupação de explicar o desenvolvimento cultural na relação com o desenvolvimento do capitalismo, e com o destaque do conceito de ideologia foi geral.

·        Por causa da repetição, e simplificação da abordagem, a posição desse campo de estudos esgotou-se. Ela também acabou se confundindo com a escola de Frankfurt.

 

  1. A terceira geração aponta alternativas

 

·        Dois caminhos foram apresentados aos estudiosos na segunda metade dos anos 70.

·        Por um lado, aflora idéia de uma América Latina altiva, solidária, com esperança de reverter o processo para descolonizar a informação e tirar o entretenimento do campo da alienação. “A democratização da informação acompanharia o ressurgimento da democracia política e o desenvolvimento de projetos econômicos nacionais da região”.(p. 262)

·        Tal perspectiva é representada pelo ILET (Instituto Latino-americano de estúdios Transnacionales), sediado no México.

·        Por outro lado, os pesquisadores desenvolveram projetos de comunicação popular e alternativa. Surgiram experiências de inversão da utilização dos meios.

·        A pesquisa-ação dos anos 80 substituiu a pesquisa-denúncia dos anos 70.

·        Não há coincidência entre a criação da comunicação popular e o interesse acadêmico por ela despertado. Esses estudos foram conseqüência do contexto social.

·        Os estudos da comunicação populares pediram outras referências teóricas e metodológicas, deslocou o espaço universitário, começou a tratar também da cultura, além dos meios de comunicação de massa.

·        Foi introduzida a preocupação de outras modalidades de fazer pesquisa por causa da pesquisa da comunicação popular e alternativa. Surge então a pesquisa-ação, pesquisa participativa e militante.

·        A década de 80 teve duas linhas de pesquisa: Políticas públicas/ Nacionais de Comunicação; e Comunicação Popular e Alternativa.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

  1. O projeto é pensar desde a comunicação

 

·        Nos anos 90 já não se pode definir as fronteiras entre as linhas e a relação com as disciplinas. A necessidade de revisões e de releituras tonifica este período.

·        Jesus Martin Barbero sugeriu o início dos estudos de: a) ambíguo processo de surgimento do massivo a partir do popular; b) as formas de presença/ausência, de afirmação/negação, de confisco e de de-formação da memória do povo nos processos de massificação midiática; c) os usos populares do massivo.

·        “A perspectiva que vai, então, se afirmando entre os pesquisadores é: a comunicação deve ser tratada no cenário da cultura, que na América Latina encontra eco na sua formação híbrida, que propicia múltiplas mediações na recepção das mensagens”.(p. 268)

·        Nos anos 90, chegou-se à conclusão que a classe não é a solução de tudo, pois engloba outros interesses.

·        As pesquisas de recepção trouxeram novas perspectivas para o campo de estudo. Posteriormente, o tema volta sob novas avaliações.

·        Passa-se a reduzir a recepção á audiência apenas, segundo alguns autores.

·        Nos anos 90, as categorias são as de mediação e a de hibridação, que facilitam repensar a relação entre popular e massivo, da comunicação com movimentos sociais, do receptor com o meio, mediadas pelas estruturas socioculturais.

·        O contexto dos anos 90 é a globalização a mundialização.

·        Mesmo permanecendo as razões que orientam a denúncia dos modos de atuação da comunicação, o modelo pesquisa-denúncia se deslocou. Dois caminhos se perderam: a ilusão do Estado mudar o mundo cultural, e a ausência da temática da comunicação popular e alternativa.

·        Inicia-se a legitimação do campo comunicacional como uma área transdisciplinar dentro das ciências sociais.

·        A pesquisa em comunicação é um exemplo para a observação do movimento histórico (político, cultural e social do continente).

·        Para Antônio Pasquali, o trabalho dos estudos da comunicação na América Latina foram um fracasso, pois não soube convencer os poderes democraticamente constituídos, nem as forças políticas e as bases populares, que consomem os bens culturais.

·        Dessa forma, conclui-se que esses estudos tentaram conquistar um lugar na luta popular do continente. Essa preocupação continua em alguns autores. A pesquisa é feita hoje em programas de pós-graduação, vislumbrando a tradição de compromisso social. 

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