Universidade Federal de Minas Gerais
Comunicação Social / 2º Período
Nome:: Thiago Martins Lopes de Faria
Disciplina: Teoria da Comunicação
Professora: Vera França
Fichamento 04
FRANÇA, Vera V. O estudo da comunicação na Europa. In: ______. Curso Básico de Teoria da Comunicação. Belo Horizonte, 2004.
· Os estudos da comunicação na Europa, com relação aos desenvolvidos nos EUA, foram mais tardios, descontínuos e com uma visão menos específica.
· Ao contrário da natureza empírica e instrumental dos estudos americanos, a perspectiva européia é desenvolvida dentro de uma tradição mais teórico-especulativa, cujos trabalhos possuem um cunho mais analítico do que explicativo e a abordagem é mais abrangente e menos pontual.
· Buscam pensar sobre a sociedade e a cultura.
· Apenas no século XX, começa a ocorrer um diálogo entre os estudos europeus e americanos.
· Há grandes diferenças entre países e escolas dentro da Europa.
· Houve também uma multiplicidade muito grande de tendências e autores que deixaram contribuições individuais.
Cap. 4 – A Escola de Frankfurt; o conceito de indústria cultural
· Se trata de uma sociologia crítica ou de uma filosofia social que repercutiu e alimentou vários campos científicos. É uma escola mais no sentido histórico.
· A expressão “Escola de Frankfurt” abrange três dimensões: uma realidade institucional, um grupo de intelectuais e uma perspectiva filosófica, reconhecida com Teoria Crítica.
4.1 – A criação de um Instituto.
· “O Instituto de Pesquisa Social de Frankfurt foi criado por um grupo de jovens intelectuais judeus, marxistas, na década de 20, na Alemanha.” (p. 2)
· Sua proposta era voltar-se para o conhecimento e para a compreensão da vida social na sua totalidade, da base econômica até a superestrutura ideacional e institucional.
· Para Horkheimer (diretor do instituto a partir de 1931), o pensamento crítico assume a função de resgatar o sentido e a razão de um mundo marcado por dominação e alienação.
· A função do conhecimento é resgatar a consciência: a teoria crítica quer levar ao homem o inconformismo e a lucidez.
· A “primeira geração” da Escola foi composta por: T. Adorno, H. Marcuse, E. Fromm.
· A “segunda geração” tem o filósofo J. Habermas como principal componente.
4.2 – Um contexto turbulento
· A Escola de Frankfurt foi desenvolvida e marcada por um contexto histórico turbulento e adverso.
· Na década de 20, quando foi fundado o Instituto, a Alemanha sofria os custos morais e materiais da derrota na primeira grande guerra. A “direita” estava em ascensão com o nazismo.
· A Europa não era mais segura, portanto, os membros do Instituto fugiram para os Estado Unidos.
· A convite de Paul Lazarsfeld, Adorno foi para os EUA, em 1938, para participar de uma grande pesquisa sobre radiodifusão.
· Rapidamente, os estilos dos filósofos entraram em choque devido à demanda pragmática operacional do trabalho científico americano.
· Horkheimer também reagia bastante ao positivismo presente em todos os domínios científicos.
· “... o enfoque marxista do Instituto, a natureza especulativa de seu investimento, a rejeição ao trabalho empírico também criaram dificuldades para os pesquisadores...” (p. 5)
· O cenário e os caminhos da vida americana (na década de 30) estabelecem para os pensadores alemães um parâmetro novo para a análise da dominação e da alienação da sociedade capitalista avançada.
· No final dos anos 60, Adorno, à frente do Instituto na Alemanha, enfrentou os estudantes de Frankfurt e veio a falecer logo após em 1969.
4.3 – A Teoria Crítica
· A Escola de Frankfurt não é considerada filosoficamente uma escola porque seus autores tiveram perspectivas próprias, mas a teoria crítica tem um eixo comum desdobrado em três: crítica à ciência e ao positivismo, ao empirismo da ciência; crítica à dominação da sociedade tecnológica, ao Iluminismo que promoveu a submissão à razão instrumental; crítica à cultura ou à deterioração desta.
· A teoria crítica assume a função de fazer uma crítica racional dos rumos tomados pela racionalidade do Iluminismo.
· A razão iluminista é instrumental, comprometida com um projeto de dominação e domesticação.
· As raízes teóricas da Teoria Crítica têm como ponto de partida a crítica da razão de Hegel, entrelaçam a leitura não ortodoxa de Marx, com elementos da psicanálise freudiana, e elementos da visão de Nietzche e Schopenhauer.
4.5 – A indústria cultural
· O conceito de indústria cultural constitui uma contribuição muito importante da teoria crítica para o estudo dos meios de comunicação e da moderna realidade da mídia.
· “Trata-se de uma aplicação direta do conceito marxista de fetiche da mercadoria aos produtos culturais: convertida em mercadoria, coisificada em produtos agora regidos por seu valor de troca, a cultura se converte em apenas mais um ramo de produção do capitalismo avançado”. (p. 7)
· Para compreender melhor o conceito de indústria cultural, é bom conhecer e discutir várias noções e aspectos incluídos por ele:
· CULTURA E ARTE: Cultura é uma dimensão que se diferencia de civilização. É mais do que civilização, pois compreende a dimensão espiritual que faz crescer a consciência, a sensibilidade e a autonomia. Por isso diz-se que a cultura é responsável pela humanização dos homens. Mas, no processo de humanização, a cultura se integra ao mundo material e perde seu caráter transcendental.
· A verdadeira arte é aquela que contraria a realidade, que nega, e não a que aproxima suas obras da realidade. É dessa forma que se pode falar do pensamento utópico de Adorno, pois a utopia sempre busca na negação do que é, alcançar aquilo que pode ser. Portanto a arte é utópica.
· A indústria cultural é, ao contrário, conservadora e tem um pensamento de manutenção.
· É um erro dizer que há cultura de massa, pois cultura resgata a individualidade enquanto a massa é padronizada.
· MASSA / MASSIFICAÇÃO: trata-se de uma perspectiva aristocrática marcada pelas grandes multidões e pela “mediocratização” dos valores e dos gostos. Na massa há um processo de homogeneização e abolição das diferenças. Esse conceito substitui o conceito de classe.
· A idéia de classe está baseada em interesses comuns que mobilizam na mesma direção. Se há substituição de classe por massa, a consciência dos interesses específicos é extinta. A indústria cultural exerce papel central nesse processo de massificação.
· A massa acaba com a possibilidade de emancipação.
· ARTE SUPERIOR E ARTE INFERIOR: A indústria cultural tem outros dois domínios distintos: o da “arte superior”, que corresponde à erudita, e a “arte inferior”, que é a popular.
· No fim do século XIX há a possibilidade de ampliar o acesso popular às formas mais consagradas de arte. O século XX traz os meios de comunicação e a indústria cultural acaba por corroer a autenticidade e a força dos dois domínios.
· A FORMA MERCADORIA: As formas culturais são orientadas em função da comercialização. Sucesso significa dinheiro, venda. A forma mercadoria abole o novo. Há apenas a variação da mesmice pelos processos de padronização e pseudo-individualização. A idéia de mercantilização se importa também em criar a dependência, a audiência cativa.
· TÉCNICA E INDÚSTRIA: A técnica permite a produção em larga escala, podendo tirar o produto de seu contexto de criação e sentido. O termo indústria diz respeito à produção em escala, à racionalização das técnicas de distribuição. Alguns setores da indústria cultural funcionam de acordo com uma refinada produção industrial.
· IDEOLOGIA E ALIENAÇÃO: De acordo com alguns autores, a ideologia é oposta ao real; é uma dimensão imaginária que pretende negar sua base material. Dessa forma, há uma ordem ideológica exterior à consciência alienada.
· A teoria crítica recusa essa concepção do pensamento marxista. Segundo a teoria, na sociedade industrial não há parte autônoma que pode escapar das relações de dominação. Não faz sentido falar de processo de persuasão ou influência, pois a adesão já existe de antemão. O gosto popular é apenas um reconhecimento.
· Adorno é contra a idéia de que a indústria cultural é inofensiva, pois não pode ser inofensivo um mecanismo de construção de conformismo, e adesão incondicional.
· INDÚSTRIA CULTURAL X CULTURA DE MASSA: O termo “indústria cultural” foi estabelecido para evitar ambigüidades que o termo “cultura de massa” ocasiona, pois além das massas não serem produtoras de cultura, também não se trata de cultura propriamente dita, e sim de mercadorias culturais. “O termo ‘indústria cultural’ nomeia um fenômeno de natureza mercantil e ideológica”. (p. 13)
4.4 – Limites do conceito
· As principais críticas a essa teoria são em relação ao seu caráter elitista, e à sua visão monolítica e maniqueísta. Há também uma visão muito pessimista em relação aos indivíduos.
· Essa teoria lembra a teoria da agulha hipodérmica, no que diz respeito ao processo comunicativo.
· O desprezo pelo trabalho de campo fez com que as idéias fossem desprovidas de evidência empírica.
· Não se pode desprezar, porém, a força de seu pensamento crítico. A Teoria crítica deu uma contribuição muito importante: a perda da inocência.
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