terça-feira, 10 de março de 2009

FRANÇA, Vera V. A Escola de Chicago e o Interacionismo Simbólico. In: ______. Curso Básico de Teoria da Comunicação. Belo Horizonte, 2004.

Universidade Federal de Minas Gerais

Comunicação Social / 2º Período

 

Nome: Thiago Martins Lopes de Faria

Disciplina: Teoria da Comunicação

 

Fichamento 03

 

FRANÇA, Vera V. A Escola de Chicago e o Interacionismo Simbólico. In: ______. Curso Básico de Teoria da Comunicação. Belo Horizonte, 2004.

 

  • As últimas décadas resgataram uma tradição sociológica que se iniciou antes dos estudos funcionalistas e que contribuiu para o desenvolvimento de uma nova abordagem da comunicação: a Escola de Chicago e o Interacionismo Simbólico.

 

3.1 – A ESCOLA DE CHICAGO

 

  • A “Escola de Chicago” é uma perspectiva sociológica desenvolvida na Universidade de Chicago entre as guerras mundiais.
  • Essa nomeação é imprecisa por se tratar de uma teoria heterogênea e por ser um conjunto de características comuns que unem estudos diferentes.
  • A Escola de Chicago revelou preocupação com o cotidiano e com as pequenas atividades do dia-a-dia, combinou valores coletivos e atos individuais, deu ênfase ao trabalho empírico e ao uso de técnicas qualitativas, e teve uma perspectiva interdisciplinar.
  • O interesse dos pesquisadores de Chicago é acerca do particular, das pequenas ocorrências da vida cotidiana.
  • “A sociologia de Chicago foi uma sociologia urbana, voltada sobretudo para a temática da cidade e da assimilação do estrangeiro” (p. 2).
  •  O departamento de Sociologia e Antropologia da Universidade de Chicago foi fundado junto com ela, em 1892, e dirigido por Albion Small.
  • A segunda geração dos sociólogos da escola (William Thomas, Robert Park, Ernest Burgess) é que contribuíram efetivamente para a configuração da idéia de uma “Escola”.
  • A característica interdisciplinar da escola vem da influência de várias disciplinas como: teologia, filosofia, pragmatismo, psicologia social, psicologia de orientação funcionalista, antropologia e ciências políticas.
  • A temática do imigrante, dos problemas de assimilação, da desorganização/ reorganização social, marginalidade e aculturação marcou a sociologia urbana de Chicago.
  • A incorporação dos valores e a ênfase no significado da ação dos indivíduos são traços fundamentais dessa sociologia.
  • Essa tradição começa a interessar aos pesquisadores do campo da comunicação por causa desta perspectiva do significado e por essa presença ativa dos sentidos.
  • Os trabalhos de R. Park foram os mais significativos dentre os da “segunda geração” para os estudos da comunicação.
  • Park se interrogou sobre o papel do jornal na formação da teia urbana. Para ele, “todas as mudanças e revoluções da história da humanidade aconteceram a partir da cidade; ela está associada com a dinâmica da mudança, do progresso, da racionalização”. (p. 3)
  • O fator que diferencia a Escola é o pensamento de que a cidade constitui um todo organizada, com um foco especial nos nexos, nas conexões, nos sentidos colocados pela convivência múltipla e diferenciada do meio urbano.
  • Mesmo podendo ser vista sob vários enfoques, a cidade é, antes de tudo, um lugar de convivência , de intervenção e ação diferenciada dos indivíduos.
  • Além das relações afetivas (chamadas de grupos primários), a cidade também permite relacionamentos baseados na afinidade de interesses, de trabalho (chamados de grupos secundários). Por isso Park afirma que a cidade favorece as relações mais convencionais e a racionalidade.
  • Cidade é também diversidade e mobilidade. Dessa forma, de um lado promove mistura, e de outro, dá possibilidade de recriar as afinidades.
  • Park coloca dois conceitos interessantes: “regiões morais”, que correspondem aos locais de encontro nos quais as pessoas compartilham dos mesmos gostos e temperamentos e que não coincidem necessariamente com a distribuição da população de acordo com interesses ocupacionais ou condições econômicas; e o “contágio social”, que é intimamente ligado às regiões morais e é referente à força das associações a partir das “diferenças de temperamento” comuns e à associação dos que compartilham dos mesmos sentimentos.  
  • Ele faz também a distinção entre “sentimento” e “interesse”. O primeiro é mais concreto, individual e imediato. Já o segundo é mais abstrato, implica a existência de meios e de uma consciência da diferença entre meios e fins. Os interesses das pessoas são racionais e móveis, e podem provocar mudanças.
  • A propaganda, a publicidade, e o jornal são meios de controle social, segundo Park, pois orientam a formação da opinião pública.
  • “Park ressalta a relação entre notícia e acontecimento, notícia e interesse, e percebe aí – no campo do jornalismo – uma dupla construção. A notícia, dotada de mecanismos específicos para descrever de forma convincente a realidade, é, em si, uma construção. Ao mesmo tempo ela atua na construção da realidade social. [...] Uma notícia gera conversação, desperta comentários, suscita discussão” (p. 6)
  •  A importância dada ao trabalho de Park, está na natureza e no papel que a comunicação recebe.
  • Se a cidade constitui uma “teia de vida” (web of life), as práticas comunicativas representam os elos, elementos e locais de interconexão.
  • Notícias são construções que, ao tornar públicos os fatos, atuam na consolidação dos interesses coletivos e na construção da racionalidade.
  • O positivismo e outros pontos da Escola sofreram críticas severas. O caráter a-histórico e a visão liberal mostram as limitações da análise da vida social, porém encarar a cidade como uma “teia” e dar prioridade às conexões e redes de valores representam uma contribuição significativa.

 

 

 

3.2 – O INTERACIONISMO SIMBÓLICO

 

  • G. H. Mead foi quem desenvolveu o “Interacionismo Simbólico”.
  • Não se trata de uma teoria e sim de um conjunto de premissas que partiram da oposição às perspectivas sociológicas clássicas que diferenciavam os conceitos de indivíduo e sociedade.
  • Tratar indivíduo e sociedade separadamente é uma bifurcação enganada.
  • O objetivo da perspectiva do Interacionismo Simbólico é pensar na junção e na construção mútua de indivíduo e sociedade. A linguagem, os símbolos e os sentidos ocupam lugar central nessa proposta.
  • Segundo Mead, “mente”, “eu” e “sociedade” são aspectos do mesmo fenômeno: a ação social.
  •  A ação social, ou seja, a intervenção das pessoas no mundo, é o eixo de análise da vida social.
  • “Um outro ponto central na estruturação desse pensamento é a concepção de indivíduo enquanto sujeito, ator social, responsável por ações e representações” (p.2)
  • Para Mead, sociedade é um aglomerado de ações reciprocamente referenciadas por parte de seus membros.
  • Na associação humana, o ator deve perceber a intenção do outro e construir uma resposta baseada nessa suposta intenção.Essa, porém, não é uma simples resposta, e sim uma interpretação do comportamento e do ajustamento de sua própria intervenção.
  • Isso é possível apenas quando os gestos e a externalização do outro possui significados.
  • Gestos simbólicos são aqueles que traduzem intenções, e que têm significado.
  • Dessa forma, Mead afirma que o comportamento cooperativo humano é possível através do uso de símbolos e da linguagem que são aprendidos em conjunto.
  • O conceito de “eu” (ou self) diz respeito à construção e presença do sujeito no mundo e à sua singularidade.
  • A individualidade é resultado da “construção” e da mistura de componentes internos e externos.
  • O “outro generalizado” é um processo no qual o self é formado por meio da internalização da expectativa dos outros sobre os indivíduos, ou seja, as pessoas se vêm com o olhar dos outros.
  • Esse processo envolve duas fases diferentes: “eu-mesmo”, que corresponde à parte desorganizada, impulsiva, espontânea, criativa de cada indivíduo; e o “mim”, que é relacionado à internalização do outro generalizado.
  • “Mente”, para Mead, é o diálogo consigo mesmo, ou seja, a capacidade de fazer indicações a si próprio através da linguagem.
  • Além de ser um lugar que processa os impulsos internos ou os estímulos de fora recebidos pelos indivíduos, a mente é o processo que faz interagir essas tendências.
  • O modelo triádico de Mead rompe com a bifurcação de indivíduo e sociedade e marca a centralidade conceitual de interação.

 

O período pós-Mead: a leitura de Blumer

 

  • De acordo com Blumer, “o interacionismo simbólico está fundado em três premissas básicas: os seres humanos agem no mundo fundamentando-se nos significados que este lhes oferece; os significados de tais elementos são provenientes da ou provocados pela interação social que mantém com as demais pessoas; tais significados são manipulados por um processo interpretativo”.(p.5)
  • Tomando a primeira premissa, as ações são decorrentes dos significados que as situações colocam. Dessa forma, o significados dos elementos que estão à volta das pessoas e as afetam são fundamentais, pois são os significados que provocam os comportamentos.
  • Assim surge a segunda premissa, que afirma que esses significados vêm da interação social, ou seja, das relações estabelecidas pelos sujeitos.
  • Na terceira premissa, Blumer fala que os sentidos produzidos nas interações são agenciados individualmente.
  • Dessa forma, as três premissas estabelecem uma certa circularidade e essa concepção acaba por romper um modelo linear, apresentando uma forma diferente de temporalidade. As três premissas conformam também um tipo de desenho analítico.
  • O interacionismo simbólico fornece indicadores de um novo paradigma, pois tem como ponto principal o processo interativo.
  • Baseado nas três premissas, o interacionismo simbólico fundamenta-se em vários conceitos básicos, ou “imagens-raiz”, que são:

 

1-     Natureza da sociedade humana: seres humanos em ação compõem a sociedade.

2-     A natureza da interação social: o processo interativo é onde o comportamento é formado. Blumer esclarece, porém, que apenas as interações construídas por meio de “gestos significantes” e que incluem um processo de interpretação por parte dos sujeitos é que podem ser consideradas interações simbólicas.

3-     A natureza dos objetos: os objetos são criações sociais, ou seja, a sua natureza é dada pelo significado que eles têm para as pessoas.

4-     O ser humano como um organismo agente: através da consciência de si e do outro, o ser humano molda o seu próprio comportamento.

5-     A natureza da ação humana: da interação interpretativa surge a ação humana.

6-     Encadeamento de ações: “uma ação orienta a seguinte, e assim por diante”.(p.9)

 

·        O interacionismo simbólico contribui para os estudos da comunicação por definir diferentemente o processo comunicativo, por indicar a mobilidade da vida social, incentivando o estudo de situações específicas.

·        Por trazer uma imprevisibilidade para o ato comunicacional, essa teoria foi pouco atrativa para a sua época (primeira metade do século XX). Ela foi resgatada apenas recentemente.

·        Há outras críticas que podem ser feitas ao interacionismo, como: a negligência com relação à desigualdade social, a questão do conflito e do poder.

 

A dramaturgia de E. Goffman.

 

  • Para Goffman, a interação é a influência dos indivíduos uns sobre os outros, quando em presença física imediata. Seu estudo tem, portanto, o foco sobre as relações face-a-face.
  • Essas interações são muito complexas e codificadas.
  • Os “momentos de encontro” das pessoas são denominados “situações”, e o desempenho bom ou ruim depende da compreensão de sua estrutura e organização.
  • A pessoa precisa passar por duas partes do processo para definir o seu papel: precisa de informação sobre as outras pessoas, e de dar informações sobre si mesmo.
  • Goffman distingue duas formas de expressão: a que se transmite (comunicação verbal) e a que se emite (comunicação não-verbal). Não há sempre uma simetria ente as duas.
  • É usada na análise de Goffman uma metáfora teatral na qual a vida social é um teatro. “Os papéis são definidos socialmente [...], e na administração de seu desempenho frente à platéia, há inclusive uma distinção entre a ‘fachada’ [...] e  o ‘fundo’.” (p.12)
  • Para Mead, os significados adquiriam maior mobilidade, já para Goffman, eles são mais cristalizados e formam uma ordem social. Para Goffman, os indivíduos representam papéis definidos socialmente e não significados.
  • Sua análise tem, portanto, um caráter mais conservador das interações e os indivíduos atores são menos “sujeitos” de sua ação.
  • O trabalho de Goffman é muito retomado hoje para o entendimento da sua natureza de encenação.

 

 

 

 

Um comentário:

  1. Thiago, muito obrigada por publicar seu fichamento! Estou justamente no 2° período de Comunicação da UFMG. Seu texto foi bastante útil. :)

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