terça-feira, 3 de março de 2009

Fichamento: O que é ser jornalista (Ricardo Noblat)

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
DISCIPLINA: CAMPO PROFISSIONAL DA COMUNICAÇÃO
PROFESSOR(A): CARMEM
ALUNOS: THIAGO MARTINS LOPES DE FARIA / FÁBIO NEVES DE FREITAS

1) DISCUTA COMO O AUTOR DO LIVRO “O QUE É SER JORNALISTA”, RICARDO NOBLAT, APRESENTA OS SEGUINTES ASPECTOS DA PRODUÇÃO JORNALÍSTICA:
a) Pauta.
O autor quando trata do assunto pauta, mostra que ela depende muito da linha editorial do jornal ou revista. Quando Noblat trabalhava na Manchete ele diz que o que determinava a pauta da revista era a fotografia que a reportagem daria isso. Isso é, dito por ele no seguinte trecho: “Como a Manchete valorizava a fotografia acima de tudo, pensávamos no potencial de imagens de um determinado assunto para só depois avaliarmos seu grau de relevância jornalística. Se ele fosse capaz de propiciar belas fotografias daria boa reportagem. O contrário não era inteiramente verdadeiro. Por isso eu muitas vezes me atrasava na apuração de informações só para dar palpites no trabalho dos fotógrafos e ajuda-los, se necessário, a produzir fotos”.
Já na Veja o autor destaca a importância ou texto e como este determinava a reportagem que daria. Portanto, o autor demonstra que a pauta depende muita da linha editorial do jornal ou revista.

b) Apuração.
A dúvida é um elemento fundamental para o jornalista apurar ou publicar uma notícia. O autor deixa claro isso, no trecho seguinte: “ Manda outra lei do jornalismo que se duvide sempre de tudo e de todos – principalmente do que você imagina ter visto ou estar vendo. Nem tudo é como parece. Ou melhor: nada é como parece. Se alguém lhe conta uma história, primeiro duvide. Depois torne a duvidar. Só acredite e publique quando não lhe restar alternativa. Os jornais estão cheios de mentiras ou de meias verdades. A televisão, idem, o rádio, idem, a internet, idem. A informação manipulada é o mais poderoso meio de controle das consciências jamais inventado pelo homem.”

c) Relação com as fontes.
O jornalista pode ser medido pelas fontes de informações que têm. Noblat deixa transparecer esse ponto ao dizer: “o jornalista valia tanto em Brasília na década de 80 quanto o peso de sua caderneta de telefones.”. Ele enfatiza a importância de multiplicar as fontes e valorizar menos o noticiário oficial. Quando trata desse ponto o autor sugere que o jornalista busque informações em pontos que em um primeiro momento pareçam inúteis para um jornal, como perguntar a um político “qual é seu herói de histórias em quadrinhos” ou ir ao primeiro café da manhã de um presidente e escrever sobre a mesa farta e variada.
O autor aconselha o jornalista a não temer que suas notícias sejam desmentidas, desde que ele confie nas fontes que o informaram sobre essas notícias.


d) Texto e fotografia.
O autor não acredita que um jornalista precisa de talento para escrever bem. Ele desmistifica que o talento seja uma prerrogativa para escrever um bom texto jornalístico. O mesmo ponto é levantado por Darci Demetrio em seu livro “Não quebre a cara: introdução à prática jornalística”, que afirma o escrever também ser “uma arte, e como tal resulta de 10% de inspiração e 90% de transpiração”.
A conclusão que podemos tirar da leitura desses dois autores é que um jornalista depende muito mais de sua força de vontade, perseverância, tentativa e erro, garra e humildade para ser um bom “escritor”.
O autor cita três gêneros de fotografia: o flagrante, a pose e a montagem. O flagrante é a foto pura, ou seja, a captação de um fato real no momento em que ele ocorre. A pose é evidentemente planejada e o leitor consegue reconhecer isso, não tendo dúvidas. A montagem faz o leitor crer que a foto é verdadeiramente um flagrante, isto é, não há como saber se trata-se de um flagrante ou de um pseudo-flagrante.

e) Ética no jornalismo.
Ao escrever o livro, Noblat parece ter o objetivo de mostrar como é ser jornalista na prática, afastando-se um pouco da teoria e se aproximando ao máximo da realidade. Por isso não é nada “bonita” a ética mostrada pelo autor. No livro são citados vários exemplos sobre a ética no jornalismo. Podemos citar o episódio em que Noblat é posto contra a parede quando trabalhava na sucursal da Manchete no Recife e recebeu um convite para trabalhar na Veja. O dono da Manchete diz que caso ele saísse da revista, todo o pessoal da sua equipe seria mandado embora.

f) Relação patrão e empregado.
Para o autor, um jornalista que queira ter uma boa relação com seu patrão deveria possuir as seguintes características: “olho para ver notícia onde os outros não vêem, talento para escrever fora dos padrões convencionais, gosto para ir fundo numa investigação, vigor para trabalhar e desejo de reformar o mundo.”
O patrão não deveria reprimir o jornalista totalmente no exercício de sua profissão. Elogia-lo pelos seus méritos torna-o mais receptivo a críticas futuras. O autor ainda destaca a importância da hierarquia, que é essencial onde há tarefa em grupo, mas deve ser controlada, pois em excesso sufoca a criatividade e reduz a disposição das pessoas para colaborar.
Ricardo Noblat apresenta outros aspectos dessa relação. Ele deixa bem claro que somente as características citadas acima não são suficientes para existir uma boa relação patrão-empregado. É necessário para o jornalista ser conveniente com a orientação política e econômica do jornal em que trabalha.

2) “Se vocês querem liberdade de imprensa, montem seu próprio jornal.” Assis Chateubriand. Com base nesta afirmação, dê sua opinião fundamentada sobre a intervenção dos Diários Associados no processo de trabalho jornalístico do Correio Brasiliense.

Ricardo Noblat abre o livro contando uma crise que ele viveu dentro do correio Braziliense, essa crise estava ligada ao ataque de Joaquim Roriz e um grupo de deputados ao jornal e sua direção. Neste relato o autor é bem claro sobre quem “sobrou” nessa história, ficando ainda mais transparente a fragilidade que os jornais vivem atualmente diante da pressão de grupos políticos ou econômicos.
O correio Braziliense, na maior parte de sua história, seguiu uma linha editorial que estava ligada com grupos políticos ou econômicos que os favoreciam ou eram convenientes com seus interesses. Mas com Cabral na direção o correio passou a buscar seus “ideiais jornalísticos”, e por isso os que eram antigos aliados passaram a ser novos inimigos. Todos estes poderosos e influentes que antes eram beneficiados pelo jornal e agora alvos de críticas, investigações sobre fraude e corrupção tudo isso realizado pelo mesmo jornal que os beneficiavam.
“É direito do jornalista manifestar livremente o pensamento, exercendo a profissão sem censura política, ideológica ou social.
É dever do jornalista relatar as notícias com clareza e independência, sem levar em conta os interesses do grupo econômico que edita o jornal ou dos anunciantes.” (p. 181)
A citação acima foi transposta do Código de Ética do Correio Brasiliense, enquanto Ricardo Noblat e Paulo Cabral comandavam o jornal. Esclarece que o compromisso primário do jornalista é para com os seus leitores, devendo preservar sua independência em relação a grupos políticos e econômicos.
A mudança de atitude é importante para o jornal, no quesito credibilidade com o leitor. Que sente o comprometimento do jornal para com ele. Esse seria o verdadeiro sentido do jornalismo. A linha editorial independente traz o leitor visões mais amplas aumentando o seu senso crítico. Essa mudança projeta o Correio em cenário nacional e amplia a sua tiragem.
O grupo Diários Associados, por sua vez, também não via com bons olhos as inovações do Correio. Acostumados com a tradição servil da imprensa brasileira, acreditavam que um jornal não poderia prescindir do patrocínio do governo por meio de anúncios oficiais. Tendo presidido o grupo por longas décadas, Cabral estava sendo questionado por alguns membros mineiros, que tramavam a sua deposição.
A intervenção no trabalho realizado pelo Correio, o grupo Associados esteve, n O grupo Diários Associados, por sua vez, também não via com bons olhos as inovações do Correio. Acostumados com a tradição servil da imprensa brasileira, acreditavam que um jornal não poderia prescindir do patrocínio do governo por meio de anúncios oficiais. Tendo presidido o grupo por longas décadas, Cabral estava sendo questionado por alguns membros mineiros, que tramavam a sua deposição.
Ao intervir no trabalho realizado pelo correio, o grupo Associados contribuiu para a desvalorização do papel do jornalista e da notícia. Isso a longo prazo, pode causar uma crise na imprensa sem precedentes, haverá um maior descrédito do leitor a respeito a intencionalidade de uma matéria, ou seja, se ela foi ou está sendo usada para manipular fatos no sentido favorecer grupos ou pessoas que, de alguma maneira, estão sendo favorecidos pelo jornal. Em outras palavras, a imparcialidade e o compromisso com a verdade, características essenciais para manter a confiança do leitor para com o jornal, seriam afetadas comprometendo a imagem da empresa de comunicação.
Por fim, pode-se dizer ainda, que a atitude dos Diários Associados em relação ao Correio Braziliense, só vêm demonstrar a fragilidade da isenção dos grupos empresariais de comunicação diante das figuras políticas influentes do país e, por isso, vários jornais são obrigados a renunciar o seu compromisso com o leitor sobre a informação verdadeira e precisa dos fatos. Aqueles que lutaram contra esse “jogo de interesses” restou apenas a lembrança dos acontecimentos amargos pelo qual tiveram que passar em nome de um ideal que cada vez mais torna-se uma utopia. Mais uma vez, prevaleceram o poder político e econômico.

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