Fichamento 07
Universidade Federal de Minas Gerais
Comunicação Social / 2º Período
Nome: Thiago Martins Lopes de Faria
Disciplina: Teoria da Comunicação
Professora: Vera França
ESCOTEGUY, Ana C. Estudos Culturais: uma introdução. In: ______ SILVA, Tomaz T. (org.). O que é, afinal, estudos culturais? Belo Horizonte: Autêntica, 1999.
· Os Estudos Culturais foram uma invenção britânica, mas transformaram-se em um fenômeno internacional.
· Isso não significa que estes são um conjunto fixo de conceitos que podem ser levados para vários lugares e operados semelhantemente em regiões diversas.
· O surgimento deste movimento teórico-político foi marcado pelas particularidades do contexto histórico britânico.
· Os Estudos Culturais devem ser vistos do ponto de vista político e teórico.
· Os Estudos Culturais são considerados sinônimos de “correção política”, no ponto de vista político, e podem ser vistos como a política cultural dos diversos movimentos sociais do contexto da sua origem.
· No ponto de vista teórico, propõe a interdisciplinaridade por causa da insatisfação com os limites de certas disciplinas.
· “É um campo de estudos onde diversas disciplinas se intersecionam no estudo de aspectos culturais da sociedade contemporânea.” (p. 137)
· Os fundadores dos Estudos Culturais tentaram não propagar uma definição rígida de seus estudos na fase inicial destes.
· Por meio do “Centre for Contemporary Culture Studies – CCCS” surgiu esse campo de estudos. O Centro foi fundado por Richard Hoggart em 1964.
· O eixo principal de pesquisa desses estudos é as relações entre a cultura contemporânea e a sociedade.
· A pesquisa feita por Hoggart foi realizada por meio da metodologia qualitativa e teve foco nos materiais culturais da cultura popular e dos mass media. Este trabalho revela que há também resistência no âmbito popular, além de submissão.
· Williams contribuiu bastante para a teoria dos Estudos Culturais a partir de Culture and Society. Com uma maneira diferente de olhar a história literária, ele mostra que a cultura é uma “categoria-chave” que liga a análise literária à investigação social. Em seu livro The long revolution (1962), ele revela um certo pessimismo em relação à cultura popular e os meios de comunicação de massa.
· Dentro da visão marxista, Thompson influencia o desenvolvimento da história social britânica.
· A cultura, para William e Thompson, era um conjunto de práticas e relações que constituem a vida cotidiana na qual a função dos indivíduos estaria em primeiro lugar.
· Thompson preferia compreender a cultura como uma luta entre deferentes modos de vida.
· Stuart Hall, de 1969 a 1979, ao substituir Hoggart no Centro, deu incentivos ao desenvolvimento de estudos etnográficos, análises dos meios de massa e estudos de práticas de resistência em subculturas.
· Algumas pessoas consideram que os Estudos Culturais tiveram uma proposta original mais política do que analítica.
· A história desses estudos está interligada com a trajetória da New Left, de alguns movimentos sociais e de publicações que responderam politicamente à esquerda.
· Após 1968, os Estudos Culturais se tornaram a energia principal da cultura intelectual esquerdista, tendo, portanto, uma repercussão além da Inglaterra.
OS DESLOCAMENTOS NECESSÁRIOS
· A preocupação dos Estudos Culturais foi principalmente com os produtos da cultura popular e dos mass media que mostravam os caminhos da cultura contemporânea.
· Deixaram de lado o funcionalismo estrutural dos EUA, pois este não compreendia as propostas. Foram recuperados aspectos da fenomenologia, da etnometodologia e do interacionismo simbólico.
· O trabalho qualitativo recebeu maior ênfase sob o ponto de vista mercadológico. Esse trabalho influenciou bastante nos Estudos Culturais.
· “O estudo etnográfico acentua a importância dos modos pelos quais os autores sociais definem, por si mesmos, as condições em que vivem”. (p. 143)
· Por causa do aumento da dimensão do significado de cultura, toda produção de sentido é colocada em foco. A atenção para com as estruturas sociais e o contexto histórico é o ponto inicial para o entendimento da ação dos meios de massa e o deslocamento da significação da cultura para o cotidiano.
· O primeiro deslocamento, portanto, modifica o sentido de cultura. Em primeiro lugar, o movimento segue a direção de uma definição “antropológica” de cultura e em segundo, vai para uma definição mais histórica.
· A cultura recebe dos Estudos Culturais uma função que não é explicada totalmente pela economia.
· Os Estudos Culturais receberam a contribuição do marxismo no sentido de entender a cultura como algo independente das relações econômicas (“autonomia relativa”), mas que sofre influências das relações político-econômicas.
· O segundo deslocamento é considerado como sendo a relação entre a cultura e outras práticas, como a economia, a política e a ideologia.
· O conceito de ideologia é muito importante no que diz respeito a esse campo. A ideologia é tida como fornecedora de “estruturas de entendimento” que fazem com que os indivíduos possam conhecer, interpretar, dar sentido e ter experiências com as condições materiais em que eles vivem.
· A ideologia deve ser vista tanto no campo da linguagem, como também nas suas formas materiais.
· Na primeira etapa dos Estudos Culturais, a pesquisa estava restrita às subculturas, condutas desviantes, sociabilidades operárias, escola, música e linguagem.
· Os Estudos Culturais consideram os produtos culturais como agentes da reprodução social que acentuam a natureza complexa, dinâmica e ativa na construção da hegemonia da sociedade. Esses estudos não pensam nos meios de comunicação de massa como meros manipuladores e como formas de controle da classe dominante.
· Dessa forma, são estudadas estruturas e processos pelos quais os meios de comunicação de massa reproduzem estabilidade cultural e social. Esse processo ocorre pela adaptação às pressões e controvérsias da sociedade e pela inclusão destas no sistema cultural.
· A teoria da hegemonia, de Antonio Gramsci, “pressupõe a conquista do consentimento”. (p.147) A formação da direção política da sociedade dá a entender complexas interações entre as culturas popular e hegemônica.
· Dessa forma, não existe conflito entre bipolar entre as culturas, pois há interseções e transações entre elas, ocorrendo um jogo de intercâmbios entre ambas.
· O Centro de Birmingham pode ser visto como o foco de uma plataforma formada por várias teorias, como o agente responsável pela abertura a problemáticas que não haviam sido consideradas e como divulgador de estudos bastante heterogêneos.
· A partir do final dos anos 70, com a internacionalização dos Estudos Culturais, escasseiam-se as análises nas quais os focos eram a “luta” e a “resistência” e, de acordo com alguns analistas, inicia-se a despolitização destes estudos.
CONTORNOS DA ATUALIDADE
· É importante perceber as diferenças entre os “primeiros” Estudos Culturais e os da década de 90.
· No início havia uma grande relação com iniciativas políticas com o intuito de compartilhar um projeto político. Nos anos 90, essa preocupação política diminui bastante, o sentimento de estar analisando algo “novo” acaba, mas há uma continuidade dos Estudos Culturais, ainda que dividida.
· Há algumas modificações nos estudos Culturais, durante sua trajetória, no que diz respeito à relação entre cultura e comunicação de massa.
· A recepção e densidade do consumo midiático começa a chamar a atenção dos pesquisadores no fim dos anos 60.
· “Através de categorias da semiologia articuladas a uma noção marxista de ideologia, Hall insiste na pluralidade, socialmente determinada, das modalidades de recepção dos programas televisivos”. (p.151)
· Ele afirma que há três posições diferentes de interpretação da mensagem: “dominante” ou “preferencial”, “negociada” e de “oposição”.
· A preocupação com o instante da recepção mantém-se fundamental com relação ao retorno ao sujeito, a subjetividade e a intersubjetividade, e à integração de novas relações de poder.
· Nos anos 70, dessa maneira, há o encontro com os estudos Feministas, que fizeram questionamentos relacionados à identidade. Depois, questões relacionadas à raça e etnia foram incluídas.
· Nos anos 80, são definidos novos modos de analisar os meios de comunicação, como os estudos de recepção dos meios, principalmente televisiva. Há também uma ênfase crescente ao trabalho etnográfico.
· Nessa época as pesquisas empíricas são mais voltadas para a importância do ambiente doméstico e das relações familiares.
· Enquanto no início dos Estudos Culturais havia uma preocupação em entender as relações entre poder, ideologia e resistência, nos anos 90, o enfoque era dado para a recuperação das “leituras negociadas” dos receptores e isso fez com que houvesse uma valorização maior da liberdade individual e subvalorização dos efeitos de ordem social.
· O conceito de “classe” deixou de ser o foco principal dos Estudos Culturais e passou a ser uma “variável” entre várias.
· O foco se deslocou para questões de subjetividade e identidade e para textos culturais e midiáticos. Além destes enfoques, há vários outros aspectos importantes englobados pelos Estudos Culturais na atualidade, como pós-modernidade, globalização, a força das migrações, e a função do Estado e da cultura na formação das identidades.
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