terça-feira, 17 de março de 2009

Análise do filme "Dois Filhos de Francisco" a partir dos estudos da comunicação na Europa

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas

Departamento de Comunicação Social

Teorias da Comunicação

Professora Vera França

 

 

 

 

Análise do filme

Dois Filhos de Francisco a partir dos estudos da comunicação na Europa

 

 

 

 

 

Aluno: Thiago Martins Lopes de Faria

Belo Horizonte
Outubro de 2005

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

SUMÁRIO

 

 

 

 

Introdução................................................................................................ 03

 

Caracterização do filme "Dois filhos de Francisco".................................... 04

 

Análise do filme a partir dos Estudos da Comunicação na Europa............... 06

Análise baseada na Escola de Frankfurt- Adorno........................................ 06

Análise na perspectiva da Escola Francesa- Edgar Morin ........................... 10

Dois filhos de Francisco e os Estudos culturais britânicos.......................... 14

 

Conclusão................................................................................................ 18

 

Referências Bibliográficas.......................................................................... 20

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Introdução

 

         Esse trabalho se propõe a fazer uma breve análise de um produto dos atuais meios de comunicação. Para tanto, o produto escolhido foi o filme Dois filhos de Francisco(2004). As perspectivas teóricas que se pretende aplicar ao filme são alguns dos estudos da comunicação na Europa: a saber, a da Escola de Frankfurt (Alemanha), a perspectiva francesa de cultura de massa, e a visão dos Estudos culturais britânicos.

            Na primeira parte do trabalho, encontra-se uma caracterização do filme Dois filhos de Francisco, expondo-se seus traços evidentes como elementos de composição, técnicas usadas, principais atores, equipe de produção, gênero no qual é caracterizado, possíveis proximidades com outros filmes e uma breve descrição do enredo.

            A seguir, são apresentadas as três possíveis análises do filme, tendo como perspectiva cada um dos eixos dos estudos de comunicação europeus. Na parte em que trata da Escola de Frankfurt (principalmente baseados na concepção de Adorno), há uma análise que critica a Indústria cultural produtora de Dois filhos de Franciscos. Posteriormente, seguindo a linha de pensamento do francês Edgar Morin, analisa-se o filme de acordo com as necessidades de uma cultura direcionada para uma massa (grande quantidade de pessoas). E, finalmente, tendo como base o teórico inglês Stuart Hall, aplica-se a teoria dos estudos culturais britânicos a produção e recepção do filme, identificando assim seu processo de codificação/decodificação.

            Na conclusão, buscado uma identificação com as correntes teóricas analisadas, procuro assumir uma das três perspectivas e justificar a minha tomada de posição por um meio analítico.

 

 

 

 

 

 

 

 


Caracterização do filme "Dois filhos de Francisco"

 

Dois filhos de Francisco conta com um enredo já conhecido pelo público de massa. Que é a história de uma pessoa de família sociocultural de baixa renda que consegue vencer na vida com seu talento artístico. Posso citar como exemplo o rei do Rock Elvis Presley  que exercia a função de camioneiro e cantava por hoby quando foi descoberto por um empresário e decidiu lançá-lo como cantor e o resto da história todos já sabem. Uma história similar é a do cantor Michael Jakson que veio de uma família pobre e com seu talento musical se tornou o rei do pop. Enfim há várias histórias envolvendo artistas da música, que tiveram quase o mesmo enredo de vida. E é claro que já foram feitos filmes que contam essas histórias verídicas e sempre tiveram um bom sucesso de público. No caso do filme dois filhos de Francisco a peculiaridade é que este retrata um caso de nosso país e isso cria a sua individualização na padronização. Só por conter estes elementos o filme já é um sucesso garantido, o público de massa se identifica com os cantores por entender as dificuldades que estes já passaram e além do mais o sucesso alcançado pela dupla é algo que cativa o público por identificar no sonho deles o seu.

 Agora vou fazer uma breve sinopse do filme. Tudo começa com Francisco, lavrador do interior de Goiás, que tem um sonho: transformar dois de seus nove filhos numa famosa dupla sertaneja. Morando numa casa de adobe, em meio ao nada sem ter nenhum conhecimento musical ou mesmo instrumento e horas distante do vilarejo mais próximo, ele não avalia os esforços neste caminho.

Ele acredita que seu primogênito Mirosmar tem o talento necessário para ser um cantor famoso ao dar-lhe um acordeão quando o menino tinha apenas 11 anos. Mirosmar e o irmão Emival que ganhara um violão começam a se apresentar com até um certo sucesso nas festas da vila até que, no início da década de 70, às voltas com a perda da propriedade, toda a família se muda para Goiânia e vive um momento de enorme dificuldade.Diante de todas as privações que a família vive, os meninos resolvem tocar na rodoviária, onde conhecem Miranda, “empresário” de duplas caipiras, o primeiro empresário da dupla, com quem desaparecem por mais de cinco meses. Os meninos fazem sucesso e chegam a cantar para 6 mil pessoas no interior do Brasil quando um acidente interrompe dramaticamente a carreira da dupla. Esse fato mudou muito o sonho de Francisco. Depois de quase desistir, Mirosmar volta a cantar, vira Zezé di Camargo e grava sem sucesso um disco solo em São Paulo. Já casado e com duas filhas pequenas, Zezé mal consegue sustentar a família. Suas músicas são gravadas e fazem sucesso na boca de outras duplas, como Leandro & Leonardo, mas com Zezé as músicas não emplacam e ele não se conforma em ser apenas compositor e pensa até em desistir: Mas acontece algo no início aparentemente não ia mudar nada. É neste momento que encontra no irmão Welson (Luciano), 11 anos mais novo, o parceiro perfeito para concretizar a profecia de seu pai. Com Luciano a coisa da certo.Em 1990 Zezé Di Camargo e Luciano gravam e lançam um disco com a música "É o Amor", composta por Zezé. Um episódio engraçado é quando Francisco gasta todo seu salário com fichas de telefone para pedir na rádio a música dos filhos e  com a ajuda do pai, os filhos de Francisco conquistam as rádios e vendem um milhão de discos.

Zezé di Camargo e Luciano, os filhos de Francisco, comemoram neste ano 20 milhões de cópias vendidas. O que pode resumir bem o que o filme representa a frase usada pelo crítico de cinema Renato Marafon “Um filme nacional que mostra a vida de muitos brasileiros”.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Análise baseada na Escola de Frankfurt-Adorno

 

A escola de Frankfurt configura-se por uma tendência crítica, teórico-reflexiva de base marxista. O foco de análise da Escola é feito sobre como se dá a intervenção prejudicial das relações econômicas na cultura. Os meios de comunicação de massa, os quais possuem como um de seus produtos os filmes, seriam meros instrumentos de controle, cuja função é reproduzir a ideologia da classe dominante.

Nessa perspectiva, portanto, o filme Dois filhos de Francisco, pode ser visualizado como mais uma das produções da Indústria Cultural, trazendo alguns aspectos (apresentados a seguir) que podem ser objetos de crítica da escola frankfurtiana.

O filme segue toda uma lógica de produções industriais. Há divisão do trabalho (uma pessoa responsável pela produção de figurinos, outra pelo roteiro, os atores pela interpretação do enredo, um diretor de filmagens, outro de fotografia, etc.), a terceirização de serviços. A naturalidade dos figurinos e a presença de diversos profissionais que dão toda uma mágica pra a linguagem do cinema, de um número grande de pessoas envolvidas nas filmagens indicam que os gastos com a produção foram elevados. Ou seja, é um investimento do qual se espera retorno (lucro). Para tanto, a distribuição do filme foi feita em larga escala, pela Columbia Tristar Filmes do Brasil e Globo filmes, empresas multinacionais, que atuam em diversos países do mundo distribuindo e divulgando o filme.

O filme esteve em cartaz predominantemente nos cinemas dos shoppings, o que segundo Adorno, mais uma vez lhe conferiria um caráter de produto da Indústria Cultural, (pois a maioria das pessoas que vão a esses cinemas está à procura de entretenimento, e entretenimento não significaria discordar e refletir, o que exige um certo grau de atenção, mas sim se distrair). E o filme já é um sucesso de público já é campeão de bilheteria neste ano deixando para trás as animações "Madagascar" e  "Os Incríveis", que lideravam a bilheteria brasileira de 2005.E deve passar o filme Carandiru em campeão de bilheteria de filmes nacionais. Esse sucesso comprova o caráter de distribuição e consumo em larga escala inerente a produtos industrializados.

 

 

Os produtos da Indústria Cultural, na visão frankfurtiana, seguem uma certa fórmula de sucesso, ou seja, não se procura muitas novidades, pois não se sabe se esses produtos inovadores venderão tanto quanto a fórmula consagrada. Em Dois filhos de Francisco a fórmula seria de um sonho impossível de ser realizado que é perseguido por mais improvável que ele seja. Francisco é o pai sonhador que espera que seus filhos Mirosmar e Nelson sejam cantores famosos e que não tenham uma vida tão difícil quanto à dele. Como em vários outros filmes, o sonho é impossível, visto que as condições econômicas são mínimas e a técnica musical quase nula. O papel do sonho nesse filme foi preponderante, pois como Francisco sonhava com algo impossível, as pessoas se sentem atraídas pelo seu sonho impossível que muito das vezes são os seus também.

 Outra característica desse tipo de fórmula é que o filho é sempre disciplinado e bom, e o pai é sempre sincero de coração, honesto e corajoso. O filho escolhido para ser um dos protagonistas é o decicado a aprender música, levando o público a crer, desde o início, que ele certamente conseguirá alcançar o sucesso desejado pelo pai. O público não reflete, apenas faz uma operação de ligar esse fato recorrente em vários filmes;se em todos os filmes até aqui o filho dedicado alcançou o sucesso que o pai esperava, logo nesse filme acontecera o mesmo( Nesse caso a história é verídica e já conhecida pelo público, mas mesmo assim o durante a exibição do filme de uma certa forma a público esquece que já conhece a história e seus desdobramentos) . Por isso, é necessário que ajam as incertezas de um contexto turbulento, como um sumiço com o empresário Miranda por quatro meses, para que o público não abandone a trama.

 De acordo com a escola de Frankfurt, outras estratégias usadas para fazer com que o público tenha interesse pelo filme são o uso das vedetes ( uso personalidade padronizada e ao mesmo tempo individualizada) e as pequenas variações na ‘carcaça’ do produto. Pode-se dizer que o filme tem como uma vedete o ator Ângelo Antônio, interpretando o protagonista Francisco é um famoso ator da Rede Globo bem conhecido pelo público brasileiro. Assim, o fato de o ator ser conhecido e aclamado pelo público torna um fator que levará pessoas a assistir ao filme.

As pequenas variações, para assegurar audiência, podem ser percebidas pelo elenco, que é diverso dos padrões ocidentais e pelos figurinos e composição dos cenários do interior de Goiás.

O tratamento fotográfico diferente que as cenas receberam, o nome do filme (que se desvincula da dupla sertaneja), e como ele está presente no enredo podem também ser exemplos, segundo a visão frankfurtiana, de elementos que de certa forma individualizam o produto, mas não modificam a sua composição básica. 

            Por apenas reproduzir uma fórmula consagrada Dois filhos de Francisco não expressaria uma arte, pois segundo Adorno, a arte é uma forma de contraposição à realidade dada, é um desafio de criação e de destituir os conceitos predominantes, de mostrar alternativa. O filme não apresentaria o novo uma vez que é padronizado pela fórmula do sonho impossível.  Adorno vê o que é feito na Indústria Cultural, na verdade, como uma destruição de artes e culturas.

 Na visão da Escola de Frankfurt, ao trazer elementos da arte superior como um cantor da Mpb Caetano Veloso para participar da trilha sonora do filme (música executada no momento em que os créditos são colocados), o diretor estaria deslocando a música de seu contexto e na verdade destruindo o seu verdadeiro significado. A música não seria mais a música da Mpb com determinados significados, mas sim a música do filme, que vai ser lembrada como uma música de trilha de filme, e não por sua individualidade.

O filme se inicia no interior de Goiás com Francisco sintonizando o rádio em sua simples casa e tendo muitos filhos. Como Adorno prevê, nesse tipo de produto não há questionamento do status quo, no caso do filme em questão, não a clara necessidade de planejamento familiar.

 Não só o sonho desvia as atenções como também a estética do filme. A beleza das paisagens, da fotografia faz com que as pessoas saiam maravilhadas, com uma certa sensação de paz com as paisagens idílicas, um encantamento com a beleza natural do figurino, dos cenários, e não discutindo sobre política e sociedade (No filme é criada a doce ilusão de que todos nos podemos realizar nossos sonhos materiais).Para Adorno, todos então se encontram massificados, pela mesma sensação e encantamento. O comportamento de massa (aglomeração de indivíduos desarticulados, que só tem como referência essa ideologia e por isso a aceitam sem questioná-la: pensando o mesmo sobre os mesmos acontecimentos) pode ser notado, ainda, na relevante quantidade de espectadores levados a crer que Luciano (Welson) é músico.

Ao construir o roteiro, o próprio diretor aposta na ideologia sobre a massa para o sucesso de seu enredo. O sonho e o fato de Mirosmar de desistir da música  após o acidente com seu irmão que veio a falecer e após um tempo depois voltar para a música faz com que as pessoas fiquem felizes e torçam pelo sonho dos protagonistas, elas se satisfazem pelas demonstrações corajosas de Francisco para concretizar de ver seus filhos famosos. É uma satisfação compensatória; o filme não muda a vida do indivíduo, mas lhe fornece uma felicidade virtual e momentânea.

A ideologia presente no filme protegeria os capitalistas da revolta das massas, através da satisfação compensatória que um sonho traz e que inibe a massa, assim como garantiria público cativo para os produtos da Indústria Cultural. 

Segundo a perspectiva da Teoria Crítica, porém, não só as massas estão subjugadas a essa ideologia, mas também os próprios produtores da Indústria Cultural.Segundo a Teoria crítica, o que ocorreria de fato seria uma submissão e degradação da cultura e arte da música sertaneja frente a uma razão de mercado que coloca como condição para o desenvolvimento dos filmes uma base já pré-moldada que inibe a criação artística. A músicas sertaneja, que simbolizam o homem do campo e seus costumes, seriam degradada e banalizadas que lhes conferem um caráter universal, quando na verdade o regionalismo que é sua verdadeira identidade.

Segundo Adorno e a Escola de Frankfurt, a Indústria Cultural acaba escravizando o homem, tirando sua liberdade em preservar e fazer cultura, Dois filhos de Francisco pode ser um exemplo de como isso viria a ocorrer. Ao mesmo tempo em que banaliza a cultura de um regional de um país, inibe a capacidade reflexiva dos espectadores e produtores de cinema.

 

 

 

 

 

 

 

Perspectiva da Escola Francesa – Cultura de massa -E. Morin

 

A Escola Francesa tem vários autores importantes, mas o que tem maior destaque nos estudos sobre comunicação é Edgar Morin. Nesse campo de estudos, o foco principal é a cultura de massa, não entendida aqui como algo negativo. Morin acredita que esse termo serve apenas para identificar uma cultura voltada para uma grande quantidade de pessoas (massa) e que ultrapassa a fronteira de classes. Essa forma cultural é muito divulgada pelos meios de comunicação, como televisão, rádio, jornais, e outros meios publicitários.Dessa forma Morin se distância muito de Adorno que tem quase uma visão da teoria agulha hipodérmica

Portanto, o filme Dois filhos de Francisco pode ser considerado um produto da Indústria Cultural por ser caracterizado pela produção em grande escala, com muitas pessoas envolvidas, divisão do trabalho e porque ele é voltado par a massa (para um público heterogêneo de todas as partes do Brasil e quem sabe do mundo). Esse conceito, porém, não deve ser confundido com o conceito negativo dado ao termo pela Escola de Frankfurt, pois Morin não faz julgamentos dessa Indústria Cultural: ela é mais uma grande fábrica como outra qualquer.

De acordo com a Escola Francesa, o filme pode ser considerado como um ponto de apoio “imaginário” à vida prática, pois, ao abordar a história de um sonho forte e verdadeiro que é capaz de enfrentar todos as barreiras e empecilhos para que possa ser realizado, como o de Francisco, o filme retrata o sonho ideal tão imaginado pela massa.

Ele também transporta pontos de apoio práticos à vida “imaginária”, pois tem muitos reflexos da vida real. Ao rejeitar que o empresário Miranda lance os dois filhos Francisco demonstra que a confiança é algo que não pode ser quebrado. Um outro ponto prático, que pode ser ressaltado, é o aspecto visual do filme que apresenta um figurino bem caracterizado, músicas temáticas e a dança presente na cultura do meio rural.

O desenvolvimento da Indústria Cultural foi propiciado pelas inovações técnicas que foram desenvolvidas, por sua vez, por causa do lucro e para o aumento do lucro. Tais inovações permitiram que o filme fosse produzido com uma série de efeitos cinematográficos, como por exemplo, “o cenário rural”, que mostra um cenário dos anos 70 que consegue muito bem nos transportar para 30 anos atrás.

 A industrialização da cultura provoca uma racionalização da produção e esta, por sua vez, acarreta na padronização do produto, mas, para que o lucro e o consumo sejam assegurados, é preciso que haja uma variedade, ou seja um criação. Na concepção francesa, portanto, a padronização sem inovação levaria a Indústria Cultural à falência. Dessa maneira é preciso que haja um elemento novo no produto. No caso do filme em questão, é uma história brasileira, o público está acostumado a ver histórias como essa com grandes nomes estrangeiros como Elvis Presley e Michael Jackson a individualização do filme é que trata de uma histórica com brasileiros. Além disso, as roupas usadas pelos personagens, a riqueza de detalhes e de cores, as interpretações dos personagens, a harmonia das cenas e a própria tensão que o espectador experimenta ao temer que algo de errado aconteça no final(mesmo sabendo do desfecho o público no momento do filme parece se esquecer que já sabe), contribuem para criar o elemento diferencial deste produto cinematográfico.

Assim como Adorno, Morin também tem uma teoria sobre a presença de vedetes nos produtos da Indústria Cultural. Segundo ele, a vedete individualiza o filme, mas traz para ele elementos confiáveis que já estão inseridos em uma receita-padrão. No caso de Dois Filhos de Francisco, temos várias vedetes que podem ser consideradas os atores Ângelo Ântonio, Dirá Paes, Márcio Kieling e Paloma Duarte. Todos atores de Rede Globo portanto atores muito conhecido pelo público.

Morin também aborda a questão de que a Indústria Cultural padroniza seus produtos, a fim de conquistar o maior público possível, utilizando-se de artifícios como arquétipos e estereótipos. Ou seja, ela pega temas universais como o amor, o sonho, o medo da morte, entre outros, e forma padrões de abordagens que agradam à massa. No caso do filme, o arquétipo que pode ser desenvolvido é o sonho. A partir deste, são criados vários estereótipos, ou seja, clichês como o amor impossível entre Luciano e Cleide; Luciano é pobre e trabalha como vendedor ambulante quando conhece Cleide diz que é irmão do Zezé di Camargo um cantor de sertanejo famoso quando na verdade seu irmão passava por grandes dificuldades, Cleide fica grave e passa morar com Luciano que esta em grande dificuldade por fim ela se separa dele e não da a mínima chance que eles voltem já que logo esta com outro.

Segundo Morin, um dos objetivos da Indústria Cultural é atingir o maior e mais variado público possível. Pode-se perceber que Dois filhos de Francisco é destinado a essa grande quantidade de pessoas (massa) por meio de várias características. Uma delas é a que o filme foi exibido em diversos cinemas do Brasil e do mundo inteiro, freqüentados por públicos de variadas classes sociais. No caso de Belo Horizonte, por exemplo, ele ficou em cartaz em várias salas, desde Cinemark, no Pátio Savassi (cujo público freqüentador é de classes mais elevadas) até Cinema do Pampulha Mall, mais direcionado ao público menos favorecido economicamente. Um outro fator foi a grande divulgação, que chamou bastante a atenção das pessoas para que fossem assistir o filme, com uma participação efetiva da Rede Globo.

É importante lembrar que a distribuição do filme foi feita pela Columbia Tristar Filmes do Brasil e Globo filmes, e isso é um fator que mostra que esse filme não foi produzido para apenas o público Brasileiro, pois se tratam de multinacionais responsáveis pela distribuição de grande parte dos filmes que devem chegar em vários lugares do mundo.

Na preocupação de alcançar o maior número possível de pessoas, os produtores buscam um denominador comum, ou seja, algo que agrade à maioria das pessoas. Geralmente eles misturam no produto uma série de elementos que agradariam os diversos tipos de público (masculino, feminino, de classes sociais diferentes, etc). Essa tendência, chamada de sincretismo, procura agradar ao “homem médio” (pessoa “universal” adaptada à linguagem audiovisual). No caso do filme em questão, esse sincretismo é facilmente observado, pois há uma luta de vida identificada por todo povo Brasileiro e até mesmo mundial já que o E.U.A não foi sempre potência , e há o sonho, que geralmente encanta a todos e o pai maternal que geralmente encanta público feminino.

Morin fala que devido ao intuito de se buscar o lucro, a Indústria Cultural acaba por induzir os roteiristas, diretores e produtores dos filmes a criarem produtos mais padronizados e de acordo com os moldes propostos, podendo-se chegar a ponto de o criador não se identificar mais com sua obra. No caso do filme, apesar de haver alguns aspectos particulares da obra, há vários indícios de padronização, como a mescla de temas direcionados a todos e os estereótipos. O próprio Luciano da dupla disse que o filme não foi feito só para quem gosta das músicas deles e sim para que vejam a história de vida deles que é muito bonita, mostrando dessa forma, que há uma intenção de padronizar a obra, de forma que fique mais atrativa para a massa:

A Escola Francesa afirma que as sociedades modernas são “policulturais”, ou seja, focos de diversas naturezas estão em atividade. É possível perceber que há uma mistura de diversos elementos culturais e outras obras que exercem influências na produção do filme. Dois filhos de Francisco  parece ter elementos de outras culturas e ter sido influenciado por outros filmes. A Indústria Cultural e a Cultura de Massa, como já foi dito anteriormente, são vistas de uma maneira mais amena por Edgar Morin, ao contrário de Adorno, e isso reflete na análise dos seus produtos. O filme nessa perspectiva pode ser visto como uma produção cultural dessa indústria, mas, ainda assim, tem suas particularidades, como a maioria dos outros produtos. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Dois filhos de Francisco e os Estudos Culturais Britânicos

 

 

            Os Estudos Culturais se originaram na Inglaterra e depois se tornou objeto de estudo internacional. Esses estudos têm como principal característica trabalhar a cultura enquanto prática cotidiana, e é baseado nessa e em outras características que esse capítulo analisar o filme Dois filhos de Francisco, sob a perspectiva dos Estudos Culturais.

            O fato de as pessoas saírem de casa para ir ao cinema assistir a Dois filhos de Francisco pode ser visto enquanto uma prática social. Normalmente as pessoas vão ao cinema acompanhadas e após verem o filme acabam discutindo sobre o mesmo. Ainda que alguém vá ao cinema sozinho, provavelmente em um momento posterior comentará o filme com amigos e/ou familiares. Esse “falar sobre”, essa troca de informações, reproduz os sentidos que as pessoas constroem quando assistem ao filme. É Leitura pessoal que cada pessoa faz e que é dependente de vários fatores como contexto histórico, cultural e mesmo experiência de vida.

            Dois filhos de Francisco foi exibido tanto em cinemas populares, como o Norte (Shopping Norte, em Venda Nova) e o Pampulha (Pampulha Mall, na Pampulha), quanto em cinemas freqüentados por pessoas de classe alta, como o Cinemark (Pátio Savassi, no São Pedro) e o BH (BH Shopping, no Belvedere). Pessoas que assistiram ao filme em cinemas populares podem também atribuir a ele sentidos semelhantes aos atribuídos pelas pessoas que assistiram ao filme no Cinemark, por exemplo, pois isso, não é uma questão somente econômica. De acordo com os Estudos Culturais, a produção de sentido baseia-se na unidade formada pelas relações entre economia, política e cultura. Inseridos em contextos específicos e tendo esses contextos como pano de fundo, as pessoas interpretam o filme de maneiras diferentes.

            Stuart Hall, um dos teóricos dos Estudos Culturais, diz em “Encoding and decoding in television discourse” que o processo comunicativo pode ser pensado enquanto uma estrutura sustentada pela relação entre momentos distintos: circulação, distribuição/consumo, reprodução. Hall pensou esse processo voltado para o discurso televisivo, aqui usaremos a estrutura proposta para analisarmos Dois filhos de Francisco

           

 

 

Do lado da produção do filme estão os instrumentos materiais (estúdios, câmeras, filtros de luz, iluminação e equipamentos em geral) e seus conjuntos de relações sociais (direção, produção, fotografia, atuação do elenco). A circulação do produto, entretanto, só vai se realizar sob a forma de discurso, o filme propriamente dito. Este deve ser traduzido pelo espectador e só haverá “consumo” se houver apreensão de algum sentido.

            No filme, foi proposta uma história de um sonho “impossível” de Francisco, que acreditava que seus dois filhos seriam famosos como cantores.O sonho é utilizado para mostrar um pouco da cultura do brasileiro. As músicas no filme acontecem em cenários decorados de acordo com a tradição sertaneja.

            A mensagem que o filme quis passar teve que ser apropriada como um discurso significativo, o filme, para ser significativamente decodificada. Para codificar – dar sentido, construir o filme – a produção teve que se basear na infra-estrutura técnica, nas relações de produção e nas suas referências de conhecimento.   O diretor tinha noção do aparato técnico que possuía para filmar Dois filhos de Francisco, principalmente no que diz respeito a técnica fotográfica, recurso financeiro e da competência do elenco.

Além disso, foi produzido um filme brasileiro, mas que também pode ser exibido no restante do mundo, tanto que o filme foi distribuído pelos estúdios Columbia Tristar Filmes do Brasil e Globo filmes. Por isso, o filme reproduz tanto diversidades de culturas e sincretismo cultural. O elenco é composto por atores brasileiro, elementos da cultura sertaneja como costumes do homem do campo, músicas que fala da vida dessas pessoas e os figurinos são típicos dessa cultura.

Entretanto, a simetria presente principalmente no enquadramento nas cenas da rodoviária, o sonho impossível, a dificuldade da vida na cidade, são características mais comuns em filmes da cultura urbana. Tudo isso pode ser identificado no que Hall denominou quadro de referências.

 Para tentar alcançar sua intenção e recontar a história de Dois filhos de Francisco , Breno Silveira utilizou-se alguns signos. Estes podem apresentar diferentes sentidos para o espectador e, no caso do filme em questão, também para os próprios personagens. Por exemplo, para Francisco ter seus filhos com cantores famosos é muito mais importante que ter dinheiro já a esposa de Francisco acredita que o importante é dinheiro e não importa que os filhos sejam ou não cantores.

 Isso se deve aos diferentes “mapas de sentido” dentro dos quais se decodifica esses signos; um desses mapas é a ideologia de Francisco e o outro a ideologia da sua esposa. É importante dizer que o conceito de ideologia que aqui utilizamos refere-se ao que foi proposto por Althusser: ideologia vista enquanto provedora de estruturas de compreensão por meio das quais os homens dão sentido às condições materiais que vivenciam.

Voltando a questão da relação de codificação do filme com a sua decodificação, apesar de se tratarem de etapas que ocorrem em momentos diferentes, é necessário que haja um grau de reciprocidade entre elas. Caso contrário, nenhuma comunicação será estabelecida. Daí a importância da coexistência entre cultura urbana e a do campo dentro desse filme brasileiro que também foi feito para ser exibido no campo e na cidade.

Segundo Stuart Hall, há três posições hipotéticas a partir das quais a decodificação de um discurso pode ser construída: posição hegemônica-dominante, posição do código negociado e posição de oposição. Essas posições hipotéticas também podem ser usadas na decodificação de Dois filhos de Francisco. Ao decodificar o filme o espectador apreende uma estrutura de sentido baseada, assim como na codificação, em referências de conhecimento, relações de produção e infra-estrutura técnica. Essa estrutura de sentido apreendida pode ou não coincidir com a estrutura de sentido proposta pelo filme.

Um homem do campo, por exemplo, que mora em São Paulo, vivenciou a cultura do campo e vivencia a cultura urbana, provavelmente, ao assistir o filme esse imigrante irá decodificar o filme a partir da posição hegemônica-dominante. Ele irá se apropriar do sentido proposto por Bruno Silveira e decodificará a mensagem nos termos do código referencial em que ela foi codificada, dentro do código dominante. Descendentes do homem do campo podem adotar posição semelhante, já que normalmente têm ligações emocionais com o campo: o filme será visto enquanto uma forma de contato muito forte com a cultura e tradições do campo. Os ocidentais em geral, possivelmente irão adotar a posição do código negociado, em que a maioria das pessoas compreende o que foi definido de maneira dominante, porém, em um nível mais restrito há uma interpretação negociada às condições particulares.

 

 

 

Quando Dois filhos de Francisco for distribuído no formato VHS e DVD, a apreensão do filme visto em telas menores será diferente da apreensão das pessoas que viram no cinema. Principalmente as cenas em que as paisagens naturais predominam sobre os personagens podem perder parte da sua grandiosidade quando não vistas nas telas grandes do cinema. Caso o filme seja visto em preto e branco a apreensão será ainda mais diferente, pois essa mudança de cor para preto e branco ira mudar fundamentalmente a leitura do filme.

Há uma outra posição de decodificação que pode ser assumida, a posição de oposição. O espectador entende o sentido da mensagem, mas a decodifica tendo como base um referencial alternativo.


 CONCLUSÃO

 

Tendo em vista as perspectivas teóricas da Escola de Frankfurt, da Escola Francesa e dos Estudos Culturais, acredito que a leitura mais plausível do filme tem como base a visão francesa (traduzida no pensamento de Edgar Morin).

            Percebe-se claramente que Dois filhos de Francisco trata-se de um produto da Indústria Cultural, pois o filme segue uma “fórmula” padrão de sucesso (o sonho do Pai de ver o filhos fazendo sucesso), sua produção é racionalizada (divisão do trabalho: produção, direção de arte, fotografia, edição) e visa o lucro (grande bilheteria).

            Contudo, entendo "Indústria Cultural" como uma das formas de se fazer cultura, de se empregar símbolos e imagens para estruturar ações e sentimentos. É verdade que essa é uma cultura voltada para as massas, mas diferentemente de Adorno, não se concebe "massas" como um aglomerado de seres irracionais, mas sim como um público amplo. Não acredito que a “massa” seja um público passivo e que absorva tudo o que é enviado pelo emissor e não faça nenhuma interpretação da sua leitura.

            O grande público é unido por um denominador comum, porém, as pessoas que o compõem também apresentam desejos e interesses particulares. Algumas pessoas com quem o grupo conversou disseram ter se encantado com a fotografia do filme, outras com as paisagens naturais exibidas e há, ainda, aqueles que se envolveram com as lutas.

            Segundo Morin, esse público assimila e age na cultura por projeção e identificação. As pessoas se vêem dentro do filme, identificam-se com os personagens e compartilham dos sentimentos ali presentes. Isso foi observado por mim na sessão de cinema. Durante as cenas mais pesadas às pessoas ficavam tensas, admiravam-se com as cenas de demonstração de amor e afeto e outros chegaram a chorar com as cenas mais dramáticas e afetuosas.

            O filme traz referências culturais diversas. Ao mesmo tempo em que se observa música, sonhos, roupas e costumes do homem do campo, também se percebe características muito próximas dos moldes da cidade de se fazer cinema – dificuldades financeira, pessoas trapaceiras, etc. Estas duas culturas estão presentes dentro do mesmo filme sem, no entanto, perderem seus traços particulares, tanto que podemos distingui-las.

            Tudo leva a crer que Dois filhos de Francisco é um dos produtos dessa Indústria Cultural vista enquanto um espaço onde as diferentes culturas interagem para formar uma nova cultura – nem melhor, nem pior que as outras.

 


    

Referências Bibliográficas

 

ADORNO, Theodor. A Indústria Cultural. In: COHN, Gabriel. (org.). Comunicação e indústrial cultural. São Paulo: Nacional, 1978.

 

ESCOTEGUY, Ana C. Estudos Culturais: uma introdução. In: SILVA, Tomaz T. (org.). O que é, afinal, estudos culturais? Belo Horizonte: Autêntica, 1999.

 

FRANÇA, Vera V. Curso Básico de Teoria da Comunicação. (textos digitados)

 

HALL, S. Codificar/Decodificar. In:______. Da diáspora. Identidades e mediações culturais. Belo Horizonte: Ed. Da UFMG, 2003.

 

MORIN, E. Cultura de massas no século XX. (O espírito do tempo). São Paulo: Forense, 1969.

 

Sites

 

www.adorocinema.com.br

www.cinemaemcena.com.br

www.cinema.uai.com.br

www.2filhosdefrancisco.com.br

www.cineplaneta.com.br

http://www.cinemaemcena.com.br/

http://www.zetafilmes.com.br/interview/zh.asp?pag=zh

http://www.cinepop.com.br/criticas/doisfilhos.htm



Um comentário:

  1. meu prof jeronimo da escola educandario dermeval jose sales matos. tomei nota maxima do trabalho 6,0

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