DUPLA: João Vitor Leal e Thiago Martins
COMUNICAÇÃO SOCIAL 1O PERÍODO – OFICINA DE TEXTO A
A Guerra do Fogo (
Dir.: Jean-Jacques Annaud.
Com:
O filme A Guerra do Fogo tem como plano de fundo as sociedades pré-históricas que dependiam do fogo para sobreviver às adversidades naturais e ao confronto com outras "tribos" humanas. No entanto, o que move a trama é a evolução da linguagem nessas sociedades.
Partindo da idéia de que a complexidade comunicativa indica o maior desenvolvimento de uma tribo, o filme começa mostrando uma tribo pouco desenvolvida: apesar de possuírem o fogo, não sabiam como produzí-lo, e tratavam-no como algo sobrenatural. Assim, quando essa tribo é atacada e vencida por outra (as diferentes tribos são reconhecidas por suas próprias aparências físicas), seus membros são obrigados a procurar outro lugar para habitar e uma forma de possuir novamente o fogo. É essa busca que conduz a narrativa.
Diversas reflexões lingüísticas são possíveis a partir das relações entre os membros dessa tribo e entre outras tribos mostradas ao longo do filme. Seguindo-se uma teoria tipicamente darwinista, hierarquizando a evolução humana, nota-se que inúmeras transformações levaram o homem dos grunhidos animais e gesticulações grotescas – ambos pouco precisos – até a linguagem oral. Algumas concepções, por exemplo, admitem que as gesticulações e mesmo a fala se tornaram possíveis após o homem adotar a postura ereta, liberando as mãos e, conseqüentemente, a boca para a comunicação. No filme, o riso é uma forma de comunicação possível apenas às tribos mais evoluídas, enquanto as menos evoluídas são mais violentas e menos organizadas. Também o papel das mulheres nas tribos é diferenciado, revelando que mesmo hábitos sexuais transmitem mensagens de menor ou maior complexidade.
A questão da linguagem, contudo, é abordada com maior destaque com relação ao fogo. O grande salto evolutivo que se percebe no filme ocorre quando um hominídeo da tribo menos desenvolvida aprende por observação a fazer o fogo (iniciar uma fogueira pela fricção de gravetos) e tenta ensinar a técnica aos outros. Tal sofisticação na relação entre emissor e receptor da mensagem possibilita àquela tribo, de forma inédita, abstrair uma idéia fundamental à sua existência. Uma outra cena que deixa esse salto evolutivo claro é a em que esse mesmo personagem descreve para outros hominídeos seu encontro com alguns mamutes: além da própria descrição ser um fenômeno da comunicação, o encontro entre o homem e os animais também o é, uma vez que ele conseguiu domá-los (evitando assim sua morte) de forma não-violenta (no caso, oferecendo-os comida).
Daí se diz, atualmente, que a comunicação é, sobretudo, uma necessidade - a necessidade de transmissão e preservação do conhecimento.
O elo necessidade-comunicação, entretanto, não é o que diferencia o homem de outros animais - pesquisas recentes, por exemplo, comprovam que elefantes conseguem se comunicar imitando sons da natureza. Como atesta Ferdinand Sassure, considerado o pai da Lingüística Moderna, "não é a linguagem que é natural ao homem, mas a faculdade de construir uma língua, vale dizer: um sistema de signos distintos correspondentes a idéias distintas". Assim, o homem é o único capaz de adotar signos (por exemplo, palavras ou desenhos) para perpetuar, de forma a vencer distâncias e tempo, suas idéias.
O filme abandona os hominídeos quando eles, já "cientes" da importância da comunicação, estão prestes a consolidar certas linguagens e signos (o riso, a forma de tratar a mulher, a explicação de como se faz o fogo, alguns caracteres gestuais e verbais dentre outros) em sua sociedade. Isso acontece porque o que provavelmente ocorreu a partir daí já não se refere mais às sociedades pré-históricas, mas sim à história conforme ela é atualmente compreendida: a consolidação de linguagens e signos ocasionou os primeiros registros do homem que materialmente sobreviveram ao passar do tempo (pinturas nas cavernas, ferramentas).
Boa resenha. Fiz uma no primeiro bloco do meu curso de História, mas explorei mais a questão do desenvolvimento de técnicas que ajudaram a "tribo" protagonista, deixando a questão da comunicação em segundo plano, e hôje, fazendo uma re-análise, concrodo com a que, aqui, estou comentando. Paraéns.
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