terça-feira, 10 de março de 2009

Resenha - A Guerra do Fogo (La Guerre du feu, 81, FRA/CAN) Dir.: Jean-Jacques Annaud.

DUPLA: João Vitor Leal e Thiago Martins

COMUNICAÇÃO SOCIAL 1O PERÍODO – OFICINA DE TEXTO A

 

A Guerra do Fogo (La Guerre du feu, 81, FRA/CAN)

Dir.: Jean-Jacques Annaud.

Com: Everett McGill, Rae Dawn Chong, Ron Perlman, Nameer El Kadi.

 

            O filme A Guerra do Fogo tem como plano de fundo as sociedades pré-históricas que dependiam do fogo para sobreviver às adversidades naturais e ao confronto com outras "tribos" humanas. No entanto, o que move a trama é a evolução da linguagem nessas sociedades.

            Partindo da idéia de que a complexidade comunicativa indica o maior desenvolvimento de uma tribo, o filme começa mostrando uma tribo pouco desenvolvida: apesar de possuírem o fogo, não sabiam como produzí-lo, e tratavam-no como algo sobrenatural. Assim, quando essa tribo é atacada e vencida por outra (as diferentes tribos são reconhecidas por suas próprias aparências físicas), seus membros são obrigados a procurar outro lugar para habitar e uma forma de possuir novamente o fogo. É essa busca que conduz a narrativa.

            Diversas reflexões lingüísticas são possíveis a partir das relações entre os membros dessa tribo e entre outras tribos mostradas ao longo do filme. Seguindo-se uma teoria tipicamente darwinista, hierarquizando a evolução humana, nota-se que inúmeras transformações levaram o homem dos grunhidos animais e gesticulações grotescas – ambos pouco precisos – até a linguagem oral. Algumas concepções, por exemplo, admitem que as gesticulações e mesmo a fala se tornaram possíveis após o homem adotar a postura ereta, liberando as mãos e, conseqüentemente, a boca para a comunicação.  No filme, o riso é uma forma de comunicação possível apenas às tribos mais evoluídas, enquanto as menos evoluídas são mais violentas e menos organizadas. Também o papel das mulheres nas tribos é diferenciado, revelando que mesmo hábitos sexuais transmitem mensagens de menor ou maior complexidade.

            A questão da linguagem, contudo, é abordada com maior destaque com relação ao fogo. O grande salto evolutivo que se percebe no filme ocorre quando um hominídeo da tribo menos desenvolvida aprende por observação a fazer o fogo (iniciar uma fogueira pela fricção de gravetos) e tenta ensinar a técnica aos outros. Tal sofisticação na relação entre emissor e receptor da mensagem possibilita àquela tribo, de forma inédita, abstrair uma idéia fundamental à sua existência. Uma outra cena que deixa esse salto evolutivo claro é a em que esse mesmo personagem descreve para outros hominídeos seu encontro com alguns mamutes: além da própria descrição ser um fenômeno da comunicação, o encontro entre o homem e os animais também o é, uma vez que ele conseguiu domá-los (evitando assim sua morte) de forma não-violenta (no caso, oferecendo-os comida).

            Daí se diz, atualmente, que a comunicação é, sobretudo, uma necessidade - a necessidade de transmissão e preservação do conhecimento.

            O elo necessidade-comunicação, entretanto, não é o que diferencia o homem de outros animais - pesquisas recentes, por exemplo, comprovam que elefantes conseguem se comunicar imitando sons da natureza. Como atesta Ferdinand Sassure, considerado o pai da Lingüística Moderna, "não é a linguagem que é natural ao homem, mas a faculdade de construir uma língua, vale dizer: um sistema de signos distintos correspondentes a idéias distintas". Assim, o homem é o único capaz de adotar signos (por exemplo, palavras ou desenhos) para perpetuar, de forma a vencer distâncias e tempo, suas idéias.

            O filme abandona os hominídeos quando eles, já "cientes" da importância da comunicação, estão prestes a consolidar certas linguagens e signos (o riso, a forma de tratar a mulher, a explicação de como se faz o fogo, alguns caracteres gestuais e verbais dentre outros) em sua sociedade. Isso acontece porque o que provavelmente ocorreu a partir daí já não se refere mais às sociedades pré-históricas, mas sim à história conforme ela é atualmente compreendida: a consolidação de linguagens e signos ocasionou os primeiros registros do homem que materialmente sobreviveram ao passar do tempo (pinturas nas cavernas, ferramentas).

Um comentário:

  1. Boa resenha. Fiz uma no primeiro bloco do meu curso de História, mas explorei mais a questão do desenvolvimento de técnicas que ajudaram a "tribo" protagonista, deixando a questão da comunicação em segundo plano, e hôje, fazendo uma re-análise, concrodo com a que, aqui, estou comentando. Paraéns.

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